Para amenizar a falta de padres nas paróquias brasileiras, a Igreja incentivou a ordenação de diáconos, um incentivo que levou, nos últimos três anos, a um aumento de mais de 30% no total desses clérigos casados que realizam batizados e casamentos, mas não celebram missas nem ouvem confissões.
Atualmente, 1.829 diáconos são filiados à Comissão Nacional dos Diáconos (CND) no Brasil, o que representa 10% do total de padres do País. O número verdadeiro, no entanto, pode ser duas vezes maior, segundo a CND, já que muitos ainda não se filiaram à instituição.
Para se ter uma idéia de como o Brasil se compara com outros importantes países católicos, na Itália, os diáconos representam 5,6% do total de padres. No México, o segundo maior país católico do mundo, apenas 5%.
Mas não é apenas o número que põe o Brasil em uma posição de destaque. Segundo Aldo Natale Terrin, professor de Etnologia Religiosa e História das Religiões da Universidade Católica de Milão, o papel desempenhado pelos diáconos no Brasil revela uma verdadeira revolução do celibato.
“É uma revolução pela base, porque, na prática, eles fazem o papel dos padres”, disse Terrin à BBC Brasil. “Países como os Estados Unidos e a França podem até contar com um número grande de diáconos, mas eles não têm responsabilidades tão amplas como as os brasileiros”.
Origens
Além de ser uma preocupação da Igreja em voltar às origens – o diaconato é um ministério que já esteve presente nos primórdios do catolicismo e foi restaurado com o Concílio Vaticano II -, com os diáconos, a presença católica se tornou mais representativa em lugares onde a carência de padres é preocupante.
“Nós só não podemos consagrar a hóstia, atender confissões e dar a extrema unção”, vice-presidente da CND, Zeno Konzen. “Não é uma reivindicação minha, mas alguns teólogos defendem que seja autorizado aos diáconos também dar o sacramento da extrema unção.”
O diaconato foi restaurado em 1965. Mas só em 1998, quando a Santa Sé publicou documento com orientação à formação, vida e articulação do diaconato, que ele começou a se desenvolver no Brasil.
A partir daí, o diácono se tornou clérigo, passando a ser ordenado como os padres e a integrar a hierarquia da igreja católica.
Em 2002, com a publicação das Diretrizes para o Diaconato Permanente pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB,) as dioceses foram incentivadas a ordenar diáconos e o número começou a crescer de maneira significativa.
Padres casados
Segundo Terrin, a igreja católica não deveria trabalhar apenas com os diáconos, para resolver o problema da falta de sacerdotes. Mas poderia mudar de atitude e aproveitar os padres casados, obrigados a abandonar suas funções.
O Vaticano acredita que existam 400 mil padres católicos em todo o mundo. O número de sacerdotes que abandonaram a batina para se casar chega a 150 mil. No Brasil, estimativas indicam que eles representem um terço dos atuais 18.685 padres.
“As autoridades eclesiásticas erram ao afastar os casados do sacerdócio e manter aqueles que têm amantes do mesmo sexo, ou do oposto, ou os que cometem abusos sexual e pedofilia”, disse Terrin. “No Brasil, cerca de 50 % dos sacerdotes brasileiros têm amantes. Esta prática de não cumprir o voto de castidade está se espalhando pela Europa e pelos Estados Unidos, e a igreja não faz nada”.
Conforme Konzen, no Rio Grande do Sul, 90% dos diáconos são ex-seminaristas. Um indicativo, de acordo com ele, de que muitos homens no Brasil querem seguir a igreja, mas não o desafio do celibato.
Fonte: BBC Brasil