As clínicas oficiais de aborto da Espanha estão em greve a partir desta quarta-feira até o próximo dia 12 de janeiro. Mais de 50 hospitais permanecerão fechados para denunciar o que consideram perseguição de manifestantes anti-aborto, incitados, segundo os grevistas, pela Igreja Católica.

A Associação de Clínicas Credenciadas para a Interrupção da Gravidez, responsável pela greve e por 98% dos abortos feitos na Espanha, pede garantias jurídicas para continuar trabalhando.

“Estamos sofrendo perseguição sistemática, inspeções abusivas (…) O que queremos é ter garantido o direito das mulheres a praticar o aborto e a segurança para os profissionais que desempenham estas funções”, disse a porta-voz da associação, Francisca García.

No mês passado duas clínicas madrilenhas foram apedrejadas e os funcionários agredidos por ativistas anti-aborto católicos.

A polêmica entre o Vaticano e o governo espanhol aumentou depois de uma manifestação da Igreja Católica no dia 30 de dezembro em Madri. O bispo de Valencia e membro do Opus Dei, Agustín García Casco, disse que “com o casamento entre homossexuais, o aborto e o divórcio, acabaremos dissolvendo a democracia”.

No mesmo evento público, o Papa Bento 16 apareceu em um telão apoiando o clero espanhol e ratificando “que as palavras da igreja na Espanha são as do Papa”.

Governo

A resposta do primeiro-ministro José Luiz Rodríguez Zapatero foi que “ninguém pode impor a fé, a moral e os costumes”.

E advertiu a igreja que o governo “não vai dar nenhum passo atrás em suas leis que estendem direitos individuais por mais que isso chateie a certos setores”.

As reclamações das clínicas de aborto começaram em novembro, depois que um médico foi preso e os quatro hospitais dele em Barcelona acabaram fechados, sob acusação de atividades irregulares.

Dias depois o governo de Madri fechou outras duas clínicas por problemas administrativos.

“De repente passamos a ter acusações constantes e ficou impossível trabalhar em paz”, explicou Isabel Iserte, vice-presidente da Federação Estatal de Planejamento Familiar, que pediu reunião com o ministro da Saúde, Bernat Soria e ameaça estender a greve por tempo indeterminado.

“Sete dias de espera para abortar pode ser muito tempo. E estas datas são especialmente complicadas porque muitas clínicas fecham para as festas de fim de ano”, completou Iserte.

Na Espanha o aborto é permitido em qualquer fase da gestação, desde que autorizado por um médico e um juiz, que confirmem o risco de vida para a gestante.

Só no ano passado 101.592 mulheres abortaram no país. Pelas estimativas da Associação de Clínicas Credenciadas, mais de 2.000 gestantes serão afetadas pela greve.

Fonte: BBC Brasil

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