Com apenas uma católica, as evangélicas predominam na Raposo Tavares. Programação diária de cultos tem diversos horários para públicos distintos.

Quem passa pela Avenida Raposo Tavares, na periferia de Piracicaba (SP), encontra em praticamente qualquer hora do dia um culto religioso acontecendo. A via tem 20 igrejas, sendo apenas uma católica, ao longo dos seus 2,5 quilômetros de extensão.

As evangélicas se revezam em programações diárias em todas as horas e para todos os públicos na “avenida da fé”. Se um pastor ou pregador não agrada, é possível, literalmente, atravessar a rua e acompanhar outro culto.

[img align=left width=300]http://s2.glbimg.com/d9AqvxoUUMaNSDu3ntPmOhPVino=/300×225/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2014/04/14/1-dsc_0642.jpg[/img]Lideranças religiosas, frequentadores e um especialista procurado pelo G1 relataram uma série de explicações possíveis para a aglomeração atípica de templos, sobretudo os evangélicos. A grande movimentação da avenida, a fragmentação de comunidades religiosas que criam ramificações, oportunismo comercial e religiosidade em excesso foram algumas das características elencadas pelos entrevistados.

A Raposo Tavares não é conhecida apenas pelas igrejas. A avenida é um dos corredores comerciais mais movimentados na periferia da cidade e reúne lojas de roupas, borracharias, bares, padarias e todo o tipo de comércio, além de ser passagem para linhas do transporte urbano, pois está entre dois terminais de ônibus. A grande circulação de veículos e pessoas pela região foi apontada por todos os entrevistados como fator de peso para a concentração de igrejas.

O pastor Rubens José de Melo Almeida, de 46 anos, preside a Igreja Agnus há quatro anos, mas veio da Igreja do Evangelho Quadrangular, que fica somente a algumas quadras de distância. Ele conta que a identificação do fiel é o principal fator para a diversidade de templos. “Claro que há casos de oportunismo, mas na maioria das vezes o crente vai escolher o local onde entenda melhor a mensagem do pastor ou se sinta mais à vontade. Considero essa diversidade positiva, pois temos a palavra de Deus sendo dita por muita gente”, disse.

O jogador de futebol Isaac do Prado Donato, de 19 anos, chegou a frequentar uma Assembleia de Deus, mas preferiu o grupo de jovens formado na Igreja Neo-Pentecostal. “Às vezes escolhemos pela comunidade, mas no meu caso uns amigos convidaram e acabei gostando. Acho bom esse grande número de igrejas, pois tira muitos jovens da criminalidade e das drogas”, contou o atleta.

Mesmo à tarde, há um público fiel. “O local é ideal por ser movimentado e ter vários bairros no entorno. Mesmo nesses horários que ninguém imagina há fiéis”, disse o diácono da igreja Internacional Promessa de Deus, Danilo Augusto, de 25 anos. “O público das tardes é formado por mulheres, jovens e aqueles que não trabalham”, completou o presbítero da Restaurando Vidas, Matheus Mandro, de 18 anos.

[b]Diversidade
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O “leque” religioso vai das entidades mais tradicionais, como Assembleia de Deus, Batista, Evangelho Quadrangular e as Pentecostais, até as linhas mais modernas do protestantismo, como Universal do Reino de Deus, Deus é Amor e as neo-pentecostais, passando ainda por ministérios solitários, desenvolvidos pelos seus próprios pastores.

Assim como as igrejas, há muita diferença entre o trabalho dos pastores. Enquanto parte dos cultos aborda trechos da bíblia e [img align=right width=300]http://s2.glbimg.com/1uxLT5OstNx_KQGMyfvjLQhgyH4=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2014/04/14/dsc_0412-001.jpg[/img]ensinamentos referentes aos valores do protestantismo, também há locais em que as palavras “dinheiro”, “riqueza” e “oferta” são as mais ditas durante a pregação. “A bíblia fala que quem não é dizimista está roubando a Deus. Então, se o irmão quer ser abençoado, venha fazer sua oferta, mas se quiser queimar no inferno, pode ficar aí sentado”, disse o líder da Igreja do Reino de Deus na Terra, criada há oito meses na cidade.

O autor da frase ainda não obteve alvará de funcionamento e por isso não quis se identificar para não chamar a atenção dos fiscais. Depois de ministrar culto para apenas uma pessoa, sua esposa, o pastor considerou muitos colegas oportunistas. “Muita gente escolheu a Raposo Tavares depois de fazer pesquisa de público e para atrair mais fiéis. Eu só vim para cá por falta de outro local, não me importo em atrair as pessoas, mas em pregar o evangelho.”

A abordagem sobre o dízimo acontece em todas as igrejas, mas nem sempre associam a questão ao “pagamento por dádivas”. Por ser uma ação referendada por uma passagem citada na bíblia e pela necessidade da manutenção e melhoria dos locais, a oferta de dinheiro é também a forma para que os ministérios continuem os cultos.

[b]Ramificação ou fragmentação?
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O mestre em ciência da religião Ismael Forte Valentim analisa que a existência de várias igrejas em uma mesma avenida não representa apenas a diversidade. “Em muitos casos, membros de uma igreja têm brigas internas e resolvem se separar e abrir um templo ao lado da antiga, para atrair os fiéis”, disse.

Valentim ressaltou que os bairros do entorno da Raposo Tavares são violentos na mesma medida que em outras regiões da cidade e que não têm tantas igrejas. “Como há muitas ramificações, creio que isso acaba dividindo as forças locais para ações e reivindicações de peso. Não há unidade e articulação que permita avanços sociais.”

[b]Fonte: G1[/b]

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