Os participantes da Conferência sobre Intolerância e Discriminação contra os Muçulmanos, que começou anteontem em Córdoba, no sul da Espanha, alertaram para a nova forma de preconceito representado pela “islamofobia” e pediram que a comunidade internacional adote medidas para prevenir este fenômeno.

Esta é a mensagem emitida pelo ministro de Assuntos Exteriores espanhol, Miguel Ángel Moratinos, na inauguração do fórum internacional, promovido pela Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), que reúne na cidade espanhola representantes de mais de 60 países.

O ministro espanhol e atual presidente da OSCE ressaltou a necessidade de evitar o risco de que um novo fenômeno de xenofobia “perturbe as relações sociais e lese os direitos humanos e a segurança” dos muçulmanos.

Para ele, a islamofobia “é uma realidade que ameaça a convivência nas sociedades”, e é um problema contra o qual é preciso “lutar e dispor de medidas de prevenção e alerta”.

Moratinos admitiu que a ação do terrorismo internacional ajudou a alimentar este fenômeno, mas considerou “irresponsável” estender sua rejeição a todos os muçulmanos.

O secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, qualificou Córdoba de “um dos lugares mais importantes para a tolerância, praticada (no local) há dez séculos”. Ele se referia ao fato de a cidade espanhola ter ficado sob domínio muçulmano entre os séculos VIII e XI.

Moussa destacou ainda o papel da Espanha na promoção do diálogo entre as culturas e da Aliança de Civilizações.

Em seu pronunciamento na conferência, o secretário-geral da Liga Árabe afirmou que o conflito entre o Islã e o Ocidente “carrega dentro de si a semente de um confronto a longo prazo”, principalmente no Oriente Médio.

A culpa deste choque, acrescentou, é dos “extremismos” das duas civilizações e daqueles que defendem comportamentos “hegemônicos” e incentivam o que definiu como “anarquia criativa”.

Para o dirigente árabe, a intolerância ao islamismo não tem origem nos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, e sim no fim da Guerra Fria.

Moussa censurou atos como a charge de Maomé e os que criticam a forma de viver dos muçulmanos que moram na Europa, e lembrou que aos ocidentais que viviam em países islâmicos há um século “ninguém perguntava por que se vestiam de uma maneira ou de outra”.

“O Islã não é fácil de vencer; é fácil de conviver com ele”, disse o responsável da Liga Árabe, organização que reúne 22 países.

Outro dos oradores na conferência, o alto representante da ONU para a Aliança de Civilizações, Jorge Sampaio, afirmou que iniciativas como esta reunião organizada pela OSCE podem ajudar na “compreensão” entre culturas e religiões e a superar a “ansiedade social” contra os muçulmanos.

Sampaio insistiu em que “não há lugar para soluções unilaterais ou isoladas” e, por isso, recomendou unir esforços entre organismos como a ONU e a OSCE.

O presidente da região de Andaluzia, Manuel Chaves, também discursou na conferência e ressaltou a importância de realizar encontros deste tipo.

Para ele, a visão da religião islâmica por parte do Ocidente “está freqüentemente carregada de um conjunto de estereótipos, percepções negativas e preconceitos”.

Durante dois dias, representantes dos 56 Estados-membros da OSCE – entre países de Europa, Ásia Central, Estados Unidos e Canadá – e de nações associadas, como Marrocos, Argélia, Egito, Israel e Afeganistão, estudarão a intolerância contra os muçulmanos e recomendarão medidas para reduzir seus efeitos.

Os debates serão divididos em cinco mesas-redondas nas quais diversos especialistas discutirão o papel da imprensa e a importância da educação para superar os preconceitos contra os muçulmanos.

Fonte: EFE

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