Das pequenas capelas até as megaigrejas e sinagogas suburbanas as instituições religiosas estão cambaleando devido ao declínio das doações.

Recentemente, enquanto as dificuldades econômicas do país entravam em seu terceiro ano, o bispo Robert E. Girtman se reuniu com o conselho de sua igreja para discutir as finanças. A coleta semanal do dízimo e doações, rotineiramente US$ 4 mil antes da recessão, caiu para menos de US$ 3 mil. Alguns fiéis, desempregados e envergonhados, entregaram envelopes de dízimo vazios. Outros evitavam ir à igreja em alguns domingos do mês, para evitar o embaraço de não ter nada para dar.

Assim, a pergunta para Girtman e seu conselho, na Igreja do Deus Vivo em Port Chester, Nova York, um subúrbio de Nova York, era como responder. Eles poderiam realizar eventos para arrecadação de fundos. Poderiam contratar alguns músicos de gospel. Ou, como um membro do conselho disse ao pastor, eles poderiam simplesmente aceitar os fatos e deixar de pedir doações por um ano, rezando para que, até lá, a economia se recupere.

“Eu saltei chocado da minha cadeira”, lembrou Girtman, 67 anos, em uma entrevista por telefone nesta semana. “Como então a igreja viveria? Há contas de luz, aquecimento e todas as outras para pagar.”

Além do sobressalto momentâneo, há uma conscientização maior, não menos perturbadora.

“Eu já vi recessões no passado, quando as pessoas não doavam muito”, disse Girtman, que é um pastor pentecostal há 30 anos. “Mas nunca vi nada assim antes. As pessoas estão cortando a igreja, tentando pagar com dificuldade o aluguel e suas contas. As pessoas estão em dificuldades financeiras.”

A experiência na igreja de Girtman é semelhante à de muitas outras nos Estados Unidos. Das pequenas capelas até as megaigrejas e sinagogas suburbanas, passando por várias seitas, as instituições religiosas estão cambaleando devido ao declínio das doações.

A Catedral Nacional em Washington, a mais proeminente igreja episcopal nos Estados Unidos, realizou quatro séries de demissões de funcionários desde 2008. A Catedral de Cristal, em Garden Grove, Califórnia, uma megaigreja evangélica, demitiu funcionários, vendeu a propriedade e foi processada pelos credores. No Brooklyn, Nova York, a Primera Iglesia Getsemani, com 55 fiéis e receita mensal caindo de US$ 900 para US$ 400, está sobrevivendo graças a um mercado de pulgas semanal em sua calçada.

Apesar de a recessão ter acentuado a queda nas doações, ela não é totalmente responsável por ela. Em vez disso, ela acentuou e acelerou uma tendência de deixar de doar para organizações religiosas, que estudiosos têm monitorado ao longo da última década. A futura onda de aposentadoria da geração pós-Segunda Guerra Mundial, que começará a fazer 65 anos a partir do próximo ano, ameaça desferir outro golpe na receita das congregações.

“Quando a fundação cai, quando a base não está mais lá, então temos problemas”, disse Elbert T. Chester, um contador que tem mais de 60 igrejas na Costa Leste como clientes. “E nós ainda nem vimos o pior.”

Bem antes da crise das hipotecas subprime (de alto risco) fazer a economia cair em parafuso, sinais de alerta para as doações religiosas já estavam presentes. Um estudo de 2007 de autoria de três professores da Universidade de Indiana-Universidade Purdue, em Indianápolis, apontou que os “baby boomers” (a geração pós-Segunda Guerra Mundial) já estavam doando em 2000 cerca de 10% a menos para as igrejas do que a geração de seus pais, em uma idade comparável em 1973 – e quase 25% a menos do que esses pais, na época com idades entre 62 e 76 anos, doavam em 2000.

Quanto ao que explica a divisão entre as gerações, estudiosos de filantropia oferecem várias explicações. Charles E. Zech, um professor de economia da Universidade Villanova, nos arredores da Filadélfia, cita a “teoria de coorte”. A chamada “a Grande Geração” amadureceu durante o New Deal e a Segunda Guerra Mundial, desenvolvendo confiança nas instituições, ele disse. A geração baby boomer, por sua vez, desenvolveu ceticismo como produto dos anos do Vietnã e Watergate.

Em termos religiosos, essa desconfiança das instituições significa que os boomers apresentam maior probabilidade de desenvolverem um senso pessoal de espiritualidade, em vez de aderirem a uma denominação ou mesmo uma congregação. Arnold M. Eisen e Stephen M. Cohen mostraram de modo persuasivo a tendência entre os judeus americanos no livro deles de 2000, “The Jew Within”.

“É errado olhar para isto como um problema de dinheiro”, disse Mark Ottoni-Wilhelm, um professor de economia da Indiana-Purdue, que foi co-autor do estudo. “A queda nas doações segue o padrão de envolvimento. Como as pessoas não estão tão envolvidas, o padrão de doação acompanha.”

Mas a recessão agravou a tendência, sem dúvida. Antes da crise econômica, segundo um estudo envolvendo 1.500 congregações e realizado pelo Instituto Lake de Fé e Doações, metade delas viu um aumento das doações e cerca de 20% registraram um declínio. Em 2009, o primeiro ano pleno da recessão, o percentual com doações menores quase dobrou, e apenas um terço das congregações relatou aumento das doações.

Chester, o contador, disse que as doações caíram dois terços para suas igrejas clientes, entre 25% e 50% em comparação a antes da recessão.

“Elas estão reduzindo missões, cortando salários e demitindo apenas para pagar a hipoteca”, ele disse. “Até mesmo nossas taxas estão demorando para serem pagas. Antes eram pagas regularmente. Agora é como extrair um dente.”

O rabino Gerald L. Zelizer, que lidera a Congregação Neve Shalom em Metuchen, Nova Jersey, desde 1970, descreveu um fenômeno de extremos financeiros. Por um lado, mais de 50 famílias, de um total de 580 de sua congregação neste ano, pediram para suas doações anuais fossem reduzidas. Por outro, vários grandes doadores da congregação, ao tomarem conhecimento das dificuldades financeiras, aumentaram suas contribuições ao fundo anual, que subiram de US$ 53 mil para US$ 67 mil ao longo do último ano.

Ainda assim, com o que Zelizer chama de “agrisalhamento” das congregações judaicas conservadoras, e um “crescente desinteresse em religião organizada”, alguns poucos anjos filantrópicos não fornecem uma solução a longo prazo.

“É um mergulho diferente daqueles que experimentamos antes”, ele disse. “Será preciso trabalhar mais arduamente para superar isso. A montanha é mais íngreme.”

[b]Fonte: The New York Times
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