As críticas do arcebispo sul-africano Desmond Tutu contra o candidato presidencial Jacob Zuma provocaram uma dura reação do dirigente Congresso Nacional Africano (ANC, a sigla em em inglês).

Em entrevista de rádio nesta quinta-feira, 2, o prelado advertiu os líderes do ANC que “eles não são Deus”, “um dia receberão o que merecem”, e expressou rejeição à candidatura de Zuma.

Hoje, o ministério público decidirá se dará prosseguimento às denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fiscal que pairam contra Zuma, relacionados com a compra de armamentos de duas companhias européias.

Zuma foi obrigado a renunciar à vice-presidência em junho de 2005, quando seu amigo e assessor financeiro, Schabir Shaik, foi sentenciado a 15 anos de prisão por corrupção e fraude.

Ainda que Zuma insistisse repetidamente que era inocente de qualquer acusação, o juiz Hilary Squires disse que a evidência de uma relação de corrupção entre Zuma e Shaik era “assombora”.

Em outros comentário, Tutu mostrou-se contrário a uma “solução política” do caso. “Se Zuma é inocente como ele reclama, que seja uma corte de justiça que o decida”, sublinhou.

“É difícil condenar quando nosso novo governo se comporta de uma maneira um tanto estranha, porque parece que um é antipatriótico”, enfatizou o arcebispo, laureado em 1984 com o Prêmio Nobel da Paz.

Em resposta, a direção do ANC emitiu declaração na qual manifesta preocupação com a forma como o arcebispo da Cidade do Cabo abordou o assunto, um dia antes da decisão da promotoria.

O que Tutu fez “equivale a socavar a independência da Promotoria Nacional e do sistema judicial”. Na opinião do ANC, “os pontos de vista do bispo não estão em sintonia com a visão dominante do público e do cidadão médio”.

A declaração convida Tutu a compartilhar suas preocupações com o ANC.

A Confederação de Sindicatos Sul-africanos (COSATU), um dos baluartes de Zuma, declarou que “Tutu permitiu que seu ódio pessoal contra o ANC e seu presidente Jacob Zuma obscurece seu juízo.”

COSATU enfatizou que Zuma tem direito de se defender e qualificou de politicagem “desesperada” as tentativas dos partidos de oposição e do arcebispo de apropriar-se de uma decisão que corresponde à promotoria.

Correm rumores de que o promotor principal, Mokotedi Mpshe, tem em seu poder provas apresentadas pelos advogados de Zuma que impedem o prosseguimento do processo.

Entre as provas constariam fitas gravadas de um dos serviços de inteligência sul-africanos, demonstrando a existência de uma conspiração contra Zuma organizada pelo ex-presidente Thabo Mbeki.

Fonte da promotoria antecipou que os pesquisadores que trabalharam vários anos acumulando provas de acusação se sentiriam profundamente traídos pela decisão de desestimular as acusações contra Zuma.

O candidato do ANC é favorito para ganhar a presidência nas eleições gerais previstas para o próximo dia 22 de abril, as quartas desde o desmantelamento do “apartheid” na África do Sul.

Fonte: ALC

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