Jornais, revistas e canais de televisão conservadores americanos criticam a primeira versão de um guia sobre educação sexual que está sendo elaborado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), por considerarem que o material incentiva a masturbação, a contracepção e o aborto.
O projeto, que recebeu o título “Diretrizes Internacionais sobre a Educação Sexual” e também foi discutido regionalmente por especialistas da América Latina, começou a ser preparado em 2007 pela Unesco.
O objetivo do guia é orientar educadores sobre a melhor maneira de ensinar os jovens a se protegerem contra abusos e explorações de índole sexual, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, de acordo com comunicado da Unesco.
Segundo a organização, em muitas partes do mundo ainda não há programas pedagógicos deste tipo.
“A educação é, por enquanto, a melhor arma com a qual podemos enfrentar estes problemas”, declarou Mark Richmond, diretor da divisão da Unesco que coordena as prioridades em educação e luta contra a Aids.
Segundo dados de diversas agências da ONU e da Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF), mais de cinco milhões de jovens vivem com Aids em todo o mundo; 4,4 milhões de mulheres tentam o aborto em condições pouco seguras e 10% das crianças nascidas no mundo são filhos de mães adolescentes.
O conteúdo do rascunho foi elaborado com base em 87 estudos internacionais e revisa a situação em 12 países.
No início de setembro, técnicos de Cuba, Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, México, Uruguai, Canadá e Estados Unidos fizeram uma consulta técnica regional sobre as linhas do projeto.
A primeira versão foi divulgada em junho e gerou fortes críticas, sobretudo em meios de comunicação conservadores nos EUA.
“O relatório da ONU recomendou ensinar a masturbação às crianças de cinco anos”, afirmou em agosto em seu site o canal de televisão americano Fox News, ligado aos conservadores do país.
“A Unesco quer estabelecer uma burocracia ensinando a masturbação e a contracepção e seu guia de educação sexual deprecia a moral tradicional”, denunciou outro site conservador, o americanthinker.com.
“Mais uma vez, o pior da ideologia radical americana é exportado ao mundo”, acrescentou o site.
Os dois autores do guia, os especialistas americanos Douglas Kirby e Nanette Ecker, receberam ameaças por e-mail, segundo a Unesco.
Com estas acusações, o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) foi retirado do projeto.
O FNUAP se tornou “bode expiatório” dos conservadores americanos, indicaram fontes da organização.
A Unesco rebateu as acusações e afirmou que “este guia não é um programa escolar. Não há nada obrigatório. É um trabalho a pedido dos Estados membros e das organizações das Nações Unidas, que consiste em colocar em debate uma série de questões sobre o tema, sem tabus”, destacou Sue Williams, porta-voz da organização.
“Se todas as possibilidades forem evocadas, desde a abstinência até o aborto, “cada governo o utiliza como quiser, adaptando segundo os diferentes contextos culturais”, concluiu.
A versão final do guia será apresentada na ONU em Nova York no final de outubro, destacou a Unesco.
Fonte: AFP