A renovação na Câmara dos Deputados não chegou aos 50% apesar dos escândalos na atual legislatura, mas algumas mudanças nas bancadas que assumem em 1º de fevereiro podem influenciar a atuação da Câmara na próxima legislatura.
Por exemplo, deputados empresários eram 104 e serão 121; assalariados urbanos de classe média eram 97 e serão 87, e evangélicos, que chegaram a ser 60, caíram para 27.
Produtores rurais, evangélicos e sindicalistas perderam espaço, e o número de profissionais liberais e de empresários aumentou.
De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), os deputados que tomarão posse são, em sua maioria, pessoas com experiência política, escolaridade superior e idades entre 30 e 60 anos.
Dos 513 futuros deputados, 265 (pouco mais da metade) são profissionais liberais: 87 advogados, 54 médicos, 47 engenheiros, 20 economistas e 15 administradores, entre outras profissões.
Os empresários ampliaram sua presença: serão 121 deputados, em vez dos 104 parlamentares da legislatura que termina em 2007. É um aumento de mais de 16%.
Já os assalariados urbanos de classe média – professores, bancários e funcionários públicos, entre outras categorias – serão 87 deputados. Na última legislatura, eles somavam 97 parlamentares.
Entre as bancadas que perderam representantes, estão a evangélica, a da saúde e a dos parlamentares ligados à produção rural.
De acordo com Antônio Augusto Queiroz, diretor do Diap, a Câmara terá um perfil menos social-democrata e um pouco mais liberal – o que poderá pesar na hora de votar matérias como as reformas sindical e trabalhista.
Segundo ele, a configuração ideológica da nova Câmara, a julgar pela formação e pelas fontes de renda dos eleitos, tende a aumentar a pressão por reformas de cunho liberalizante.
“A redução da bancada de trabalhadores e o aumento das bancadas de empresários e de profissionais liberais abrem espaço para novas tentativas de propostas em bases neoliberais, como a flexibilização da legislação trabalhista, entre outras”, avaliou Queiroz.
Já o professor aposentado de ciência política da Universidade de Brasília Otaciano Nogueira, por sua vez, não acredita em uma guinada liberal. “O Parlamento brasileiro é muito conservador, assim como a consciência política no País. O fato de haver mais empresários não significa que ele será mais liberal”, afirma.
Nogueira não acredita que a simples presença de deputados com perfil mais específico possa mudar a característica das votações. Ele ressalta que os profissionais liberais têm, tradicionalmente, lutado por interesses corporativos.
“Eles batalharam pela aprovação do Supersimples, por exemplo, mas dificilmente serão uma força motora de reformas”, pondera. De acordo com Nogueira, os empresários podem ser ainda mais conservadores do que os políticos tradicionais.
Por outro lado, a Frente Parlamentar Evangélica foi a que teve a maior perda: dos 60 integrantes, somente 15 foram reeleitos. A eles, serão somados 12 novos parlamentares que professam a fé segundo a doutrina evangélica, conforme a definição adotada pelo Diap. Assembléia de Deus, Igreja Batista, Igreja Universal do Reino de Deus e Sara Nossa Terra são algumas das representadas.
O consultor legislativo Márcio Rabat não atribui a diminuição de bancadas tradicionais à crise política dos últimos dois anos. Segundo ele, é preciso analisar os resultados de mais de um pleito para confirmar ou refutar qualquer tendência, e somente depois de algumas eleições será possível dizer se os números de 2006 representam tendências gerais ou se foram conseqüências de aspectos conjunturais e passageiros.
“No caso específico dos evangélicos, creio que aconteceu um aumento exagerado nas eleições anteriores; agora eles voltaram ao tamanho de sua representatividade. Foi algo parecido com o que ocorreu com o PT em 2002”, avalia.
Rabat destaca que a eleição para a Câmara é definida nos Estados. “Pode ter havido aumento em alguns Estados e diminuição em outros; ou seja, não se trata de um fenômeno nacional”, explica. Para o consultor, um dos resultados mais relevantes das eleições de 2006 foi a volta do crescimento da bancada do PMDB.
Esses números também podem pesar na eleição para a presidência da Câmara. Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia garantem que não arredam pé de suas candidaturas. O impasse estimulou outros partidos a buscarem alternativas aos candidatos governistas.
O PMDB pertence à base do governo, mas pode apresentar o nome do deputado Eunício Oliveira (CE). O partido se reúne até o dia 16 para decidir se apóia um dos candidatos oficiais ou se lança candidatura própria.
Outros partidos, como PV, PPS, PSB e PSol, reuniram-se nesta quinta-feira, dia 4, e decidiram que vão apresentar candidato. Este nome poderá ser do deputado Fernando Gabeira (PSol-RJ).
Fonte: Folha Blumenauense