O principal motivo para que o papa Francisco tenha incluído a cidade caribenha de Cartagena, na Colômbia, em seu roteiro é a preocupação com a rápida expansão de cultos evangélicos no país e, principalmente, na região costeira, a mais densamente povoada.
Neste domingo (10), o pontífice celebra a última missa antes de voltar a Roma, em homenagem ao padroeiro local, são Pedro Claver.
A Igreja Católica continua sendo majoritária em todo o país —de 49 milhões de habitantes, 45,3 milhões se declaram católicos, segundo medição do instituto de estatísticas da própria Igreja.
Outros números, porém, vêm inquietando a Conferencia Episcopal colombiana. Segundo o Centro de Investigação Pew, o número de católicos declarados passou de mais de 90% no fim dos anos 1990 para 79% em 2014.
A expansão dos evangélicos é visível em Cartagena. Ao se aproximar do centro histórico, é possível ver cartazes chamando para os cultos na periferia da cidade.
Há pastores que são verdadeiras celebridades, como Miguel Arrázola, da Igreja Ríos de Vida. Jovem, de retórica exaltada e com pretensões políticas, é amigo de jogadores de futebol e de astros pop, tem 80 mil seguidores nas redes sociais e ataca o presidente Juan Manuel Santos, associando-o ao “chavismo e ao comunismo” por buscar a paz com as guerrilhas.
OUTROS “REBELDES”
Além dos pastores evangélicos, a costa colombiana é também uma espécie de bastião dos sacerdotes católicos mais rigorosos, e que resistem a aceitar algumas das orientações do papa Francisco.
Em 2016, quando o pontífice pediu aos padres colombianos o apoio ao “sim” no plebiscito para aprovar acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a costa foi um dos locais em que o “não” foi mais representativo.
Juntos, pastores evangélicos e sacerdotes católicos “rebeldes” ao acordo acabaram determinando a vitória do “não” (posteriormente o acordo acabou sendo aprovado pelo Congresso).
À Folha de São Paulo na época, Santos afirmou ter “subestimado” a importância que tinham, para essa população religiosa, os artigos do documento que aludiam à diversidade sexual —que acabaram reescritos.
Pastores como Arrázola usavam esses trechos em seus cultos para dizer que Santos era um “inimigo da família”.
O ex-presidente Álvaro Uribe, principal adversário do presidente e contrário ao acordo, ia à igreja de Arreazza, apesar de ser um católico fervoroso, e também visitava os sacerdotes rebeldes.
Na última quinta (7) em Bogotá, o papa se dirigiu a esses sacerdotes “que se deixaram ficar à margem do debate sobre a paz”. “Muitos de vocês podem contribuir para ajudar a nação a enfrentar esse desafio e encontrar a paz. Não sejam técnicos nem políticos, sejam pastores”, pediu.
A costa também reserva outros desafios ao papa. Há alguns meses, um canal de televisão que se denomina católico, TeleAmiga, dirigido por José Galat, reitor da Universidad Gran Colombia, passou a transmitir mensagens contra ele.
Na semana passada, a Conferencia Episcopal Colombiana emitiu nota dizendo que “o canal TeleAmiga não representa nem reflete o ensinamento da Igreja Católica”.
No ato final da tour do papa na Colômbia, Francisco fará uma missa com participação de representantes de comunidades negra e indígena.
A última bênção será na igreja de são Pedro Claver.
Fonte: Folha de São Paulo