Mais de uma dúzia de líderes cristãos na China deram seu apoio a uma igreja clandestina sob ataque, pedindo ao governo para que encerre sua perseguição, assim como por maior liberdade religiosa.
A petição deles, um raro gesto público por parte de figuras religiosas, que frequentemente relutam em se envolverem na política, aumentou os riscos em um impasse que tem provocado preocupação entre grupos cristãos fora da China, levando a uma campanha de petição separada nos Estados Unidos e no Canadá.
Dezenove pastores assinaram a petição, entregue na quarta-feira ao Congresso Nacional do Povo, o Legislativo chinês, e postada na Internet. Ela pede por proteções legais para as chamadas igrejas domiciliares, que operam ilicitamente fora do sistema religioso dirigido pelo governo.
A petição também pede que o Legislativo investigue a repressão contra uma dessas igrejas, a Shouwang, uma igreja evangélica cujos líderes estão sob prisão domiciliar há mais de um mês.
A congregação com 1.000 membros ficou sem casa no início de abril, depois que o senhorio, sob pressão das autoridades, pediu a devolução do imóvel. Desde então, os fiéis tentam rezar ao ar livre todo domingo, provocando o previsível jogo de gato e rato com a polícia, que impede que alguns membros deixem suas casas e detém aqueles que conseguem chegar ao local de oração predeterminado.
Carsten Vala, um especialista em cristianismo chinês da Universidade Loyola de Maryland, disse que a petição aumentou a pressão sobre o Partido Comunista, em um momento em que ele está cada vez mais nervoso com o que percebe como sendo uma contestação à sua autoridade.
“Isso mostra que há uma atenção nacional ao que está acontecendo com a Showang e que há uma ligação entre as igrejas domiciliares urbanas por todo o país”, ele disse.
A petição culpa um “sistema ultrapassado de gestão da religião” por uma crise que está agitando dezenas de milhões de fiéis chineses, que têm depositado mais fé no cristianismo do que no Partido Comunista ateísta. Também sugere que essas políticas levarão invariavelmente a mais conflitos sociais, aquilo que os líderes chineses estão tão ávidos em evitar.
“Nós esperamos que ao estabelecer uma comissão especial de investigação, o governo conseguirá lidar com o incidente de Shouwang de um modo racional e sábio, baseado nos princípios de ‘colocar a população em primeiro lugar e governar o país segundo a lei’ e no espírito generoso de servir os cidadãos, para assim evitar a escalada do conflito entre o Estado e a Igreja”, diz a petição, citando um slogan comum da liderança atual.
O documento foi escrito por Xie Moshan e Li Tianen, patriarcas do movimento da igreja domiciliar, que passaram cada um mais de uma década em prisões chinesas.
A perseguição à Shouwang e várias outras igrejas não registradas coincide com uma repressão mais ampla na China, alimentada pela turbulência no mundo árabe, que levou à detenção de um grande número de dissidentes, advogados de direitos e outros vistos como críticos.
Como muitas igrejas não oficiais, Shouwang começou em uma residência particular, mas nos últimos anos ela se tornou uma das maiores e mais ricas congregações da capital. Em 2009, após um despejo anterior ter forçado a igreja a realizar seu culto em um parque, os paroquianos doaram mais de US$ 4 milhões para compra de seu próprio espaço. Mas mesmo de posse de uma escritura, a igreja não foi autorizada pelo governo a ocupar o espaço, um conflito que levou à crise atual.
Em uma coletiva de imprensa regular na quinta-feira, Jiang Yu, uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, defendeu a campanha contra a Shouwang, dizendo que seus fiéis tentaram repetidamente “se reunir ilegalmente nas ruas”, segundo a agência de notícias “Reuters”.
“Para manter a ordem pública e a segurança, os departamentos de segurança pública tomaram as medidas apropriadas”, ela disse.
[b]Fonte: The New York Times[/b]