Parece impossível, mas o funk caiu nas graças da Igreja Católica. Numa tentativa de reverter a perda de fiéis, apesar de o Brasil ainda ser o país com mais adeptos da religião no mundo, algumas paróquias da cidade decidiram colocar em prática uma espécie de Plano B para lá de excêntrico: transformar as missas em uma grande festa e, assim, aumentar o rebanho jovem.
E foi assim, ao som do funk, do hip hop e da música eletrônica, que a comemoração católica batizada de Cristoteca se tornou uma mania.
Com um público predominantemente jovem e sem bebidas alcoólicas, cigarros, nem amassos nos cantos da pista, o evento, que mais parece uma noitada carioca, é embalada por muitas palmas e coreografias ao som da celebração à palavra de Deus.
– A Cristoteca é um meio de conquistar os jovens para Deus. Muitos deles se perderam por causa da balada – fala o padre Jorge Bispo, da paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz. – Queremos fazer um trabalho de resgate com a juventude, por isso usamos as músicas que eles gostam, só que com letras católicas.
Sete horas de dança e oração
Criada em 2003 pelo padre João Henrique, em São Paulo, a Cristoteca chegou ao Rio em agosto de 2004 pelas mãos do alagoano padre Jorge Bispo. Desde então, já ‘rolaram’ 14 edições do evento, todas elas em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, com uma média de público de 2.500 pessoas. A próxima edição está prevista para o dia 9 de agosto.
Apesar da animação, nem tudo no evento se resume à música. A festa, que começa às 22h e se estende até as 5h, pára por volta da meia-noite para que seja realizada a missa. Depois da celebração, os DJs de Cristo retomam o comando das carrepetas e, enquanto a música volta a agitar a pista, em tendas brancas espalhadas pelo local acontecem orações, intercessão com Santíssimo exposto, aconselhamentos espirituais e confissões com vários sacerdotes convidados.
Quem freqüenta a festa confessa que a primeira reação foi de estranheza diante de tanta novidade.
– Sempre fui católica praticante. Sou de uma paróquia tradicional e assumo que quando soube da Cristoteca, me assustei. Achei até que era um desrespeito – declarou a jornalista Aline Pacheco, de 24 anos. – Fui à primeira, apenas para saber como era, e amei! Gostei tanto que me disponibilizei para trabalhar voluntariamente depois.
Para o fotógrafo Alessandro Gomes, frequentador da Cristoteca desde a sua criação, o clima liberal da celebração não tira o foco religioso do evento.
– Gosto muito de beber cerveja, mas nesse caso não tenho vontade e acho que é por respeito mesmo. Muitas pessoas quando bebem fazem besteiras e dentro da Cristoteca não é legal ficar bêbado.
Aos 29 anos, o técnico em eletricidade Eduardo Fernandes acredita que o evento ajudou a eliminar parte do preconceito de se assumir a religiosidade.
– A missa se renovou e hoje é muito diferente. As pessoas deixaram de lado a vergonha e assumiram que é legal ser cristão.
Fonte: JB Online