O bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, disse hoje que o governo “faz propaganda enganosa” ao informar que a transposição do rio São Francisco servirá para acabar com a falta de água que atinge as populações por onde os canais vão passar.

“O projeto de transposição tem fins econômicos, para a produção de frutas para exportação e criação de camarão em cativeiro; para incremento do capital. Se esse projeto fosse para dessedentação (saciar a sede) humana e animal eu seria a favor, mas esse não é o objetivo”, disse o bispo ao chegar para audiência pública no Senado.

Sobre a possibilidade de o projeto gerar desenvolvimento econômico e social na região, d. Cappio afirmou que isso deveria estar em segundo plano. “Primeiro é garantir água para quem tem sede e depois o multiuso do rio.”

Para o bispo, que já fez greve de fome contra a transposição, antes de distribuir a água do São Francisco é preciso fazer a revitalização corretamente. “Primeiro, vamos revitalizar o rio, porque anêmico não doa sangue. Vamos garantir a vida dele (do rio) para depois garantir o multiuso.”

O secretário de Infra-Estrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional, João Reis Santana Filho, lembrou que o projeto já estava previsto no programa de governo, portanto não pode ser propaganda enganosa.

Ele destacou a existência de estudos técnicos para garantir a viabilidade do projeto. “Os técnicos do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) sabem menos que o bispo?”

Santana Filho rebateu a crítica de d. Cappio de que a prioridade do projeto seja beneficiar o capital. “Seria um absurdo levar água para o Semi-Árido e não dar para o povo beber. Uma estupidez maior é achar que uma pessoa vive só bebendo água.”

O secretário também lembrou que a decisão sobre o uso da água caberá aos comitês gestores de bacias nos estados por onde o rio passará. Os comitês de bacias Hidrográficas são colegiados instituídos por lei, no âmbito do Sistema Nacional de Recursos Hídricos e dos Sistemas Estaduais.

Considerados a base da gestão participativa e integrada da água, têm papel deliberativo e são compostos por representantes do Poder Público, da sociedade civil e de usuários de água e podem ser oficialmente instalados em águas de domínio da União e dos estados. Existem comitês federais e comitês de bacias de rios estaduais, definidos por sistemas e leis específicas.

D. Cappio e Santana Filho participam de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado para discutir o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.

Também foram convidados para os debates o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), que era ministro da Integração Nacional quando o projeto foi lançado.

Fonte: Agência Brasil

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