O Brasil reascendeu a discussão sobre a autorização ou não para a interrupção da gravidez em casos de bebês anencéfalos, isto é, sem cérebro. Diante da polêmica, o Supremo Tribunal Federal (STF) realiza até quatro de setembro uma audiência pública para a ouvir a opinião os diversos segmentos da sociedade sobre o assunto.

Já em 2004 a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde (CNTS) recorria ao STF pedindo que a antecipação do parto nesses casos específicos deixasse de ser caracterizada como crime de aborto. Durante a audiência pública os ministros do Supremo ouvem setores como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), a Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, a organização não-governamental Católicas pelo Direito de Decidir e a Associação Médico-Espírita do Brasil (AME).

Enquanto o tema é debatido pela classe política e lideranças das instituições em Brasília, os acreanos se posicionam sobre o assunto e também se dividem, em se tratando de uma discussão que envolve a ciência, a vida e a religião. O padre católico André Ficarelli Ficarelli é enfático em dizer que ninguém tem direito sobre a vida do outro.

Segundo ele, a Igreja Católica é contra o aborto porque se baseia nas palavras do evangelho, onde Jesus defende a vida. “O Deus da esperança sempre pregou a vida, seja da pessoa sadia, do doente ou do paralítico”, afirma. O padre explica que a sociedade de hoje se sente acomodada com o que vai gerar trabalho, provocar gastos e não vai produzir.

Citando a frase bíblica: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”, Ficarelli defende que todo ser inocente tem que ser aceito com responsabilidade e como uma vida importante pelos pais e pela sociedade. “O homem não deve ter o poder de decidir sobre quem vive ou quem morre”, conclui.

Ciência se ampara na defesa da vida da gestante

Já o médico obstetra, Edvaldo Amorim, gerente do Setor de Obstetrícia da Maternidade Bárbara Heliodora, mantém a mesma opinião do restante da classe, ou seja, de que a vida da mãe deve ser preservada, especialmente quando se trata de uma gravidez de risco em função de o feto não ter cérebro. “Nesse caso a gravidez não oferece previsão de vida para a criança, que se chegar aos nove meses, já nasce com morte cerebral”, explica.

O médico diz que a equipe da Maternidade do Estado não possui uma estatística oficial sobre o número de casos de nascimento de bebês anencéfalos na unidade, mas que as ocorrências são freqüentes. Segundo ele, nesta ultima semana foi realizada uma cesariana de um bebê anencéfalo de oito meses, cuja mãe corria risco de morte se a intervenção não fosse feita.

Os médicos da equipe já sabiam do diagnóstico da criança, assim como a mãe, que levou a gravidez até onde foi possível. De acordo com dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Genética Clínica, a cada três horas nasce uma criança anencéfala no Brasil, um total de oito bebês por dia.

Os que defendem o veto desse tipo de permissão chegam a comparar o aborto de feto com anencefalia com a prática da eutanásia, que também é proibida no Brasil. A opinião deles se assemelha à crítica feita pelo padre católico, André Ficarelli, de que na realidade, o que se quer é a eliminação de uma vida que incomoda, que é cara e que é um estorvo.

Fonte: Página 20

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