Aliviado, porém sério e apressado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),deixou o plenário pouco depois de anunciada a sua vitória e nem sequer passou no gabinete, onde funcionários comemoravam o resultado. “Vou para a igreja rezar”, disse, ao sair do elevador, na chapelaria do Congresso, onde pegou o carro oficial.

De acordo com assessores, o destino seria a Igreja de São Judas Tadeu, na Asa Sul. No caminho, recebeu telefonema da mulher, Verônica, pedindo que fosse para casa, mas acabou indo se encontrar com o senador José Sarney (PMDB-AP).

No caminho para sair do Congresso, Renan ouviu gritos de protesto e vaias. “Não é hoje, mas amanhã. Queremos a cabeça de Renan”, gritavam jovens.

‘Ganho bem’

Pela manhã, antes da votação, Renan repetiu uma frase a quem se encontrou com ele ou telefonou para desejar boa sorte. “Ganho e ganho bem”, disse a todos os interlocutores, a começar pelos ministros que ligaram para prestar solidariedade. Ele dizia contar com 50 votos pela absolvição.

Amigos, deputados, senadores e afilhados políticos haviam trabalhado intensamente na noite e madrugada para assegurar a sobrevivência de Renan. Um parlamentar chegou a correr bares e restaurantes, terça-feira à noite, para conversar com senadores da oposição. De bar em bar, teve a percepção de que o Senado seria indulgente com Renan. “O presidente está salvo”, informou a um dos coordenadores da operação.

O café da manhã de Renan foi em companhia do amigo e maior conselheiro dos últimos cem dias, o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Renan também recebeu, logo cedo, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e o senador José Sarney (PMDB-AP).

“Renan não transmitiu nenhuma sensação de instabilidade. Ao contrário, ele estava muito animado”, contou, no início da tarde, o ministro da Integração Nacional, deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

Um dos líderes da base diz que PMDB e PT caminharam unidos nos bastidores e não foi por acaso que o partido de Renan deixou em aberto o voto da bancada e não recomendou solidariedade ao correligionário. Segundo ele, o PMDB quis dar cobertura ao PT e facilitar a vida dos petistas que estavam sendo pressionados e não queriam se manifestar publicamente.

No PSDB, além das promessas dos votos de Flecha Ribeiro (PA), Papaléo Paes (AP) e João Tenório (AL), o governador de Alagoas, Teotônio Vilela, pediu aos governadores e caciques tucanos que ficassem distantes do caso. O ex-senador Sérgio Machado, indicado pelo PMDB para a presidência da Transpetro, trabalhou pelo padrinho. Disparou telefonemas e fez promessas aos oposicionistas.

O senador contou também com a ajuda do irmão, deputado Renildo Calheiros (PC do B-PE), e do ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PC do B-SP). O deputado Ciro Nogueira (PP-PI) cuidou do voto do senador piauiense Mão Santa (PMDB) e ajudou a mapear os votos. No café da manhã, Jader arrematou a estratégia.

Sem ressentimento

Uma hora e meia depois de ser absolvido, Renan divulgou nota em que considera a “decisão madura e soberana do plenário do Senado uma vitória da democracia”. Ressalva, porém, que “é também o momento de refletir sobre as perdas que esse processo político provocou”.

“O único sentimento que me move é o do entendimento e do diálogo”, frisou. “Nesses mais de cem dias, muitos de nós perdemos algo. Eu perdi mais. Abri mão de momentos de convivência com família e amigos”, afirmou. Falou em “eventuais injustiças e excessos inerentes ao processo democrático”, mas disse acreditar “que a verdade sempre prevalecerá”.

Fonte: Estadão

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