Madre Teresa de Calcutá duvidava da existência de Deus. Um livro que será publicado em breve nos Estados Unidos revela cartas pessoais de madre Teresa de Calcutá em que a missionária, de origem albanesa, manifesta profundas dúvidas sobre a existência de Deus.

A crise de fé de madre Teresa de Calcutá teria durado cinqüenta anos, todos os anos que madre Teresa passou na Índia.

Em público, madre Teresa tinha um sorriso permanente, mas as cartas refletem uma grande dor espiritual. Na vida não fazia nem um lamento, mas nas cartas queixava-se da tortura de que padecia.

Numa das cartas confessa: “Sinto um vazio e um silêncio tão grande que eu olho e não vejo, ouço e não escuto, a língua move-se e não falo”. São cartas escritas semanas antes da missionária receber o prêmio Nobel da Paz em 1979.

Numa outra carta, madre Teresa diz que os “condenados ao inferno sofrem um castigo eterno porque perderam Deus. Na minha própria alma sinto uma dor enorme com esta perda, sinto que Deus não me quer, que Deus não é Deus e que, na realidade, não existe”.

Religiosa de origem albanesa, Madre Teresa morreu em 1997, aos 87 anos, e o processo de beatificação foi aberto dois anos depois, sem que o papa João Paulo 2º aguardasse o período usual de cinco anos para considerar sua santidade. Foi um dos processos mais rápidos da história do Vaticano.

A Igreja Católica leva em consideração a grande popularidade de Madre Teresa em várias partes do mundo. Na Índia, não apenas católicos, mas hindus, muçulmanos, sikhs e budistas costumam recorrer à religiosa, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1979.

O livro “Mother Teresa: Come Be My Light” –“Madre Teresa: Seja Minha Guia”, em tradução livre– traz 66 anos de correspondência da madre com seus superiores na hierarquia católica e outros correspondentes, segundo a “Time”. O compilador e editor do livro é o padre canadense Brian Kolodiejchuk.

A revista também afirma que muitos textos foram guardados contra a vontade da religiosa, que pediu que fossem queimados após sua morte. No entanto, o Vaticano preservou os textos como possíveis relíquias.

Apesar de sempre sorridente em público, a religiosa mostra momentos de angústia espiritual em mais de 40 textos. Nestes documentos, ela lamenta a solidão, a escuridão e a tortura nas quais vivia. Ela chega a comparar estas experiências com o inferno e a duvidar da existência do céu, segundo a “Time”.

“O sorriso é uma máscara que cobre tudo”, escreveu a religiosa, segundo a revista americana.

Mesmo com dúvidas que a assombravam, ao final, a religiosa dizia não ter abandonado sua fé, nem chegou a relaxar seu trabalho humanitário, informou a “Time”.

O conteúdo das cartas de madre Teresa provocou respostas diferentes. O padre Matthew Lamb, do Estado americano da Flórida, entrevistado pela “Time”, afirmou que as cartas revelam uma autobiografia de apelo espiritual que pode ser comparada com as Confissões de Santo Agostinho.

“Isto [o livro] pode fazer com que ela não seja lembrada somente por seu trabalho com os pobres, ela será também uma pessoa que experimentou dúvida, ausência de Deus em sua vida. E sabe com quem acontece isto? Com todo mundo. Ateus, crentes, céticos, todos”, afirmou o jesuíta James Martin, editor de uma revista nos Estados Unidos, à “Time”.

Dúvidas de Madre Teresa não impedem canonização

O especialista da TSF em assuntos religiosos, Manuel Vilas Boas, salienta que a revelação das dúvidas de Madre Teresa de Calcutá sobre a existência de Deus não vão impedir uma futura canonização da missionária que viveu a maior parte da vida na Índia.

Vilas Boas salienta que o importante foi a sua ação sempre “dirigida aos mais pobres dos pobres”, uma ação “marcada pela matriz do cristianismo que obriga ao amor preferencial pelos outros seres humanos”. “Será por isso que a igreja vai canoniza-la”, salienta o especialista, acrescentando “que as dúvidas de fé só lhe elevam a memória”.

Madre Teresa de Calcutá está atualmente reconhecida como beata, o segundo de três passos para a santidade de acordo com a igreja católica.

Fonte: TSF Online e Folha Online

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