Mesmo com toda a repercussão negativa na esfera ortodoxa, reformada, anglicana, evangélica e protestante provocada pelo documento “Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja”, divulgado na semana passada pela Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano, o diálogo ecumênico não será interrompido.

“Pelo contrário, é possível que até se intensifique, pois Bento XVI tem dito que deseja continuar à mesa com todos”, disse o pastor presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Walter Altmann (foto), em entrevista ao repórter Pedro Doria, do jornal O Estado de São Paulo. “Se temos diferenças, vamos encará-las”, agregou.

Altmann admite que o documento não traz nada de novo e que o assunto é de natureza interna da Igreja Católica. “O que surpreende é que o papa não realce os avanços das últimas décadas. As igrejas protestantes gostariam de ter ouvido sinais públicos reconhecendo que caminhamos à frente”, assinalou. Como assunto interno, “nós, das outras igrejas, nem devemos opinar sobre eles”.

O documento da Congregação para a Doutrina da Fé mostra que há diferenças no modo como as igrejas se auto-definem (eclesiologia) No texto preliminar do Concílio Vaticano II (1962-1965) constava a afirmação “a Igreja de Cristo é a Igreja Católica”, que foi substituída, no texto final, por “a Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica”, uma interpretação, analisou Altmann, mais ampla, que permite ver de outro jeito a relação entre as igrejas.

Esta é uma discussão interna da Igreja Católica, que compete a ela, salientou o pastor luterano. “Para o CMI, trata-se de um debate de difícil resolução no diálogo ecumênico. O que devemos fazer é perseverar na conversa”, propôs.

Também quanto aos sacramentos existem divergências entre católicos e protestantes. A Igreja Católica reconhece o batismo das igrejas da Reforma, mas não reconhece a eucaristia, a Santa Ceia, celebrada por protestantes porque os pastores, que a ministram, não foram ordenados por sucessão apostólica, o que é um obstáculo à celebração conjunta da comunhão.

Católicos têm o casamento como um sacramento, o que não acontece nas igrejas da Reforma, que o encaram como uma relação civil desejada e abençoada por Deus. “Assim, reconhecemos que ele (o casamento) pode fracassar. Por isso que, nas igrejas protestantes, não se nega a bênção a um segundo matrimônio”, explicou Altmann.

O moderador do CMI lembrou, na entrevista para O Estado de São Paulo, que o debate interno sobre temas doutrinas tem a idade do cristianismo. Para ele, é natural que a Igreja Católica, num momento como o atual, de fragmentação e de crescimento das igrejas neopentecostais, queira reafirmar a sua identidade, como o faz no documento da Congregação para a Doutrina da Fé.

Aliás, a tendência à fragmentação não é uma preocupação apenas do Vaticano. “Todos estamos atentos. O propósito de Deus e de Cristo é a unidade”, enfatizou o moderador do CMI.

Fonte: ALC

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