A posição de governo, assumida após pressão dos evangélicos na campanha eleitoral, é não capitanear mudanças pró-aborto na lei.
Ao dar posse à ministra Eleonora Menicucci (Mulheres), uma feminista favorável à descriminalização do aborto, a presidente Dilma Rousseff afirmou que ela seguirá a orientação do governo.
Menicucci é “uma feminista que respeitará seus ideais, mas que vai atuar segundo as diretrizes do governo em todos os temas sobre os quais terá atribuição”, disse Dilma.
Essa fala foi seguida de silêncio da plateia, que se manifestou diversas vezes efusivamente na cerimônia realizada no Palácio do Planalto.
A posição de governo, assumida após pressão dos evangélicos na campanha eleitoral, é não capitanear mudanças pró-aborto na lei.
Por outro lado, Dilma deu um recado aos evangélicos, que subiram o tom contra Menicucci nos últimos dias, ao dizer que governa para todos “sem distinções políticas, religiosas” e declarou que escolheu a ministra “sobretudo pelo conjunto da obra”.
A indicação é vista pelo movimento de mulheres como “um recado” de Dilma, justamente pelo histórico de Menicucci, e como ganho de peso político para a secretaria. Professora titular da Unifesp, “Leo”, como é chamada pelas amigas, se destacou na área de saúde da mulher e no combate à violência.
Ao discursar, a ministra citou o tema dos direitos reprodutivos. Não se pode aceitar, disse, “que os serviços de atendimento a vítimas de violência sexual continuem sem manutenção, sem ampliação, que [mulheres] tenham seus direitos reprodutivos e sexuais desrespeitados”.
Após a posse, Menicucci disse discordar da decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal em 2010, segundo a qual a Lei da Anistia não pode ser alterada para punir militares que torturaram presos.
“Eu acho que isso é uma discussão. Eu tenho também uma posição, eu discordo da posição do STF”, disse a ministra. Segundo ela, a atuação da Comissão da Verdade é “uma dívida histórica que o Estado brasileiro [tem]”.
O assunto da ditadura esteve bastante presente ontem, na cerimônia de posse.
Menicucci e Dilma se conheceram em Belo Horizonte e se reencontraram presas, no presídio Tiradentes (SP).
“Estivemos juntas e compartilhamos a dura experiência da prisão. Eu posso afirmar a vocês que esses são momentos em que o caráter e a dedicação, as convicções e as causas são testados à exaustão. Por isso, eu tenho certeza que meu governo ganha uma lutadora incansável e inquebrantável dos direitos das mulheres”, afirmou Dilma.
Menicucci fez um discurso emocionado em que citou amigos mortos na ditadura.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]