Ligado à Igreja Universal, senador Marcelo Crivella (foto) vira ministro da Pesca. Planalto espera que escolha ajude a conter críticas ao petista Fernando Haddad na corrida à prefeitura

Com o objetivo de blindar o petista Fernando Haddad contra críticas dos evangélicos na campanha à Prefeitura de São Paulo, a presidente Dilma Rousseff promoveu ontem mais uma mudança na Esplanada dos Ministérios.

Dilma escolheu o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e um dos principais representantes dos evangélicos no Congresso, para substituir o petista Luiz Sérgio no comando do Ministério da Pesca e Aquicultura.

A posse do novo ministro será amanhã. Em nota, a presidente disse estar “segura” de que Crivella “prestará relevantes serviços ao Brasil” e afirmou que a troca “permite a incorporação ao ministério de um importante partido aliado da base do governo”.

Para o Planalto, a nomeação de Crivella poderá conter críticas que evangélicos ameaçam fazer contra Haddad por causa do kit gay, material que o governo planejava entregar a alunos da rede pública para combater o preconceito contra homossexuais.

Encomendado pelo Ministério da Educação quando Haddad era o ministro, o kit teve sua distribuição suspensa pelo governo no ano passado, depois de receber críticas de líderes evangélicos.

Em entrevista à Folha em fevereiro, o presidente do PRB, Marcos Pereira, que também é bispo da Igreja Universal, afirmou que o kit afastaria os evangélicos do candidato petista em São Paulo.

Com a escolha de Crivella, o Planalto espera ainda fazer um agrado à direção da TV Record, que é controlada pela Igreja Universal. A emissora veiculou várias reportagens críticas sobre o kit gay.

O novo ministro negou relação entre sua escolha e a disputa eleitoral. “Em nenhum momento, quando a presidente me convidou, isso foi aventado”, afirmou Crivella. “Pelo contrário, só tivemos conversas técnicas.”

O PRB lançou o deputado federal Celso Russomanno como candidato à Prefeitura de São Paulo. Ele afirmou ontem que continua no páreo. “Nosso acordo com o governo é na esfera federal”, disse.

Recentemente, líderes evangélicos ficaram descontentes com o governo por causa de declarações do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, responsável pelo diálogo do Palácio do Planalto com igrejas e movimentos sociais.

Em palestra em fevereiro, Carvalho disse que o Estado deveria entrar numa disputa ideológica pela “nova classe média”, que estaria sob hegemonia dos evangélicos.

Ele disse ter sido mal compreendido e pediu “perdão” pelo “sentimento” que suas declarações provocaram.

Representantes dos evangélicos no Congresso também ficaram insatisfeitos com a nomeação da petista Eleonora Menicucci para o cargo de ministra de Políticas para as Mulheres há um mês. Ela defende a descriminalização do aborto e no passado admitiu ter feito dois abortos.

Na reta final da campanha presidencial de 2010, Dilma sofreu forte pressão dos evangélicos e assumiu o compromisso de que não mudaria o tratamento que a legislação brasileira dá ao aborto.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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