Dilma Rousseff se comprometeu ontem com evangélicos a negar ampliação de direito ao aborto, casamento homossexual e novo registro civil para transexuais.
Na luta para garantir o voto dos eleitores evangélicos, a candidata do PT, Dilma Rousseff, comprometeu-se a vetar questões polêmicas previstas no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que foi montado dentro do próprio governo.
Entre os itens que prometeu vetar, caso eleita, estão a ampliação do direito ao aborto, o casamento de pessoas do mesmo sexo e a mudança no registro civil para transexuais. Disse ainda que respeitará a livre organização religiosa e os cultos evangélicos. Para reforçar o compromisso, a campanha de Dilma estuda a divulgação de uma carta.
Fruto de seguidas conferências de direitos humanos – uma marca dos governos do PT -, até agora o PNDH-3 vinha sofrendo críticas por prever o controle social dos meios de comunicação e a revisão na Lei da Anistia, mas nunca havia sido atacado por um ex-ministro do atual governo. E com a importância de Dilma.
Em resposta às promessas da candidata, de que questões como o aborto, a fé e o homossexualismo não devem fazer parte da política do governo, 51 representantes de Igrejas Evangélicas que se reuniram com Dilma e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o almoço, ontem, disseram que a partir de sábado vão anunciar o apoio à petista em seus templos e cultos.
Dilma tem razão para ceder tanto aos evangélicos, a ponto de abjurar de parte do Programa de Direitos Humanos. De acordo com o pastor Ivanir de Moura, presidente da Federação Evangélica de Santa Catarina, hoje os evangélicos são cerca de 50 milhões, detendo por volta de 25 milhões a 30 milhões de votos.
[b]Passagem secreta
[/b]
Lula também contribuiu para convencer os evangélicos a apoiar Dilma. Sem alarde, o presidente deixou o Palácio do Planalto e foi até o hotel onde ocorria o encontro entre Dilma e os líderes religiosos. Entrou por uma passagem longe dos olhos dos repórteres. No encontro, disse que em seu governo nunca as igrejas tiveram tanta liberdade de culto. E lembrou veto seu ao artigo de uma lei que restringia as preces em voz alta durante os cultos, por considerá-las poluição sonora.
Lula disse também aos evangélicos que não acreditassem que Dilma seria favorável ao aborto. “Todo mundo se lembra que tanto em 2002 quanto em 2006 eu fui vítima de boatos e preconceitos. E nunca houve tanta liberdade quanto em meu governo”, disse o presidente.
O reverendo Guilhermino Cunha, presidente da Igreja Presbiteriana, foi um dos primeiros a pregar o apoio dos evangélicos a Dilma. Recorreu a uma parábola para defender a petista. Segundo ele, numa viagem transoceânica, um rato estava roendo os fios do sistema de navegação da aeronave. O comandante pensou que todos cairiam no mar. Mas se lembrou de suas aulas de biologia e de que o rato tem o cérebro pequeno.
Então, imbicou o avião para o alto, até que o pouco ar no cérebro do roedor o levou à morte. “É preciso voar alto. Os ratos não resistem às grandes altitudes”, disse o reverendo. Ele não quis dizer quem é rato da parábola. “Digo que fazer uma oposição injusta e ingrata, à base de boatos, não resiste aos voos mais altos.”
O deputado Manoel Ferreira (PR-RJ), coordenador da bancada evangélica na campanha de Dilma, disse que o encontro foi importante porque os pastores vão se engajar na luta para eleger a petista. Ele afirmou que, mesmo tendo sido procurado pelo tucano José Serra, preferiu ficar com Dilma por causa do governo Lula. “O ponto alto de nossa campanha é a continuidade do governo do presidente Lula, dos programas sociais e da distribuição de renda”, argumentou ele.
[b]Fonte: Estadão[/b]