As diferenças entre católicos e pentecostais e entre os próprios evangélicos no Rio de Janeiro pode ter papel decisivo na disputa pela prefeitura da cidade. Para pesquisador, divisão entre evangélicos enfraqueceu a candidatura de Crivella.
Para o cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC-Rio, que pesquisa a influência da religião no comportamento do eleitor carioca, o cisma das duas igrejas evangélicas mais fortes no município, a Universal do Reino de Deus, da qual o candidato Marcelo Crivella (PRB) é bispo licenciado, e a Assembléia de Deus dividiu os votos dos fiéis e enfraqueceu a candidatura de Crivella, que corre o risco de não chegar ao segundo turno.
Em agosto deste ano, o bispo Manoel Ferreira, que comanda a Assembléia de Deus e é deputado federal pelo PTB, declarou apoio a Eduardo Paes (PMDB), líder do ranking de intenção de votos. Segundo Cesar Romero, essa aliança pode ter sido crucial para o declínio de Crivella, que caiu de 26 por cento das intenções de voto para 19 por cento, segundo o Datafolha.
Pelo censo de 2000, a cidade tinha 17 por cento de evangélicos. Em 2004, Crivella teve 22 por cento de votos como candidato à prefeitura.
“Os números de evangélicos e de eleitores do Crivella estavam mais ou menos próximos, até porque pode ter havido um crescimento dos pentecostais naquele intervalo. O mapa dos eleitores de Crivella era uma reprodução do mapa da distribuição de evangélicos no Rio”, disse o cientista político.
Para Cesar Romero, a Assembléia de Deus preferiu assumir um risco menor, porque, mesmo no caso de derrota de Eduardo Paes, ainda estaria aliada a Sérgio Cabral e à máquina estadual por mais dois anos. Como conseqüência, Crivella teria perdido votos no único nicho em que consegue penetrar.
Em entrevista à Reuters, no início da campanha, Crivella afirmou que sua religião motiva rejeição de parte do eleitorado e, por isso, não podia confiar nela para vencer a disputa:
“São 25% os eleitores evangélicos no Rio de Janeiro, mas é muito difícil votarem todos em um candidato só”, disse Crivella. “Agora, recentemente, o bispo Manoel Ferreira declarou apoio ao Eduardo Paes. Então, o voto do evangélico não é destinado ao candidato evangélico, mas ao melhor candidato. Pode ter certeza que os evangélicos estão muito bem informados”, acrescentou.
Cesar Romero lembra que a divisão religiosa da cidade já estava explícita na última campanha à prefeitura, em que o atual prefeito Cesar Maia começou a disputa subindo as escadarias da Igreja da Penha para receber o voto útil dos católicos, contra Crivella.
“Crivella é vítima da intolerância praticada pela Igreja Universal. Não adianta dizer que vai governar para todos se a igreja é antiecumênica, é contra a umbanda e o candomblé. A militância gay da cidade também age contra ele”, afirmou Cesar Romero.
O pesquisador ressaltou que a Igreja Católica também atua politicamente na cidade por formas “oblíquas” de indicar o voto.
“A Igreja Católica não vai dizer no púlpito ‘vote no fulano’. Mas a arquidiocese distribui cartilha para que o católico não vote em candidato que não apóie a Igreja ou que seja a favor do aborto e do casamento gay”, observou o cientista político.
“Com argumentos diferentes, ela desaprova tanto o Crivella como a Jandira (Feghalli, do PCdoB). Se a disputa fosse entre candidatos católicos, como Solange Amaral (DEM) e Eduardo Paes, ela não se mexeria.”
Fonte: O Globo Online