Para Walter Pinheiro, “nunca houve ofensiva de marketing” para caso Erenice, e boatos de temas religiosos levaram eleição ao 2º turno.

Walter Pinheiro, deputado federal e senador eleito pelo PT da Bahia, contesta a interpretação do marqueteiro João Santana, que no domingo, na Folha, apontou que o caso Erenice Guerra foi responsável pela eleição ter ido ao segundo turno.

Para ele, evangélico da Igreja Batista da Pituba, em Salvador, a onda de boatos de cunho religioso teve muito mais impacto.

“Caso contrário, por que para o caso Erenice não foram feitas declarações públicas e ações de marketing, mas sim para conter a onda de boatos e mentiras na área religiosa contra Dilma?”

Segundo pesquisa Datafolha de 8 de outubro, porém, cerca de 75% das perdas de votos da petista no primeiro turno ocorreram por conta dos escândalos recentes no governo. O restante, por questões ligadas à religião.

Pinheiro, 51, eleito com 3,6 milhões de votos, é um dos expoentes da ala religiosa mais conservadora do PT. Ele tomou a iniciativa de ligar para o jornal e expressar as divergências com o marqueteiro de Dilma e do PT.

O sr. então discorda da avaliação da relevância do caso Erenice para levar a eleição para o segundo turno?

Se esse caso fosse determinante, teria merecido de nós algumas ofensivas. Teríamos de ter tido uma tática eleitoral e de marketing para solucionar o assunto. Isso não foi feito.

Se o caso Erenice foi tão bombástico e nos levou ao segundo turno, temos de admitir que esse episódio se dissipou ao vento, por si só.

Até porque nunca houve grande ofensiva de marketing a respeito.

Na sua avaliação, a onda religiosa foi mais determinante?

Claro. A rede de boatos e ataques apócrifos dizendo que o PT apoiava o projeto de lei sobre homofobia e que iria restringir a liberdade de culto religioso.

A divulgação de que Dilma teria dito que nem Jesus Cristo tiraria a vitória dela. Foram milhões de mensagens com esse teor.

E o que foi feito?

Exatamente este é o ponto. Nesse caso, houve grande mobilização do partido e dos aliados. Falamos com padres católicos, com líderes de várias religiões. Aliás, as duas campanhas se mobilizaram para incluir religiosos.

Quem atuou e como?

Vários de nós. Entre outros, os senadores Marcelo Crivella [PRB-RJ] e Magno Malta [PR-ES], o deputado bispo Rodovalho [PP-DF] e eu [do lado evangélico]. Além de Gilberto Carvalho [chefe de gabinete do presidente Lula, com trânsito entre católicos].

Fomos a quase todas as capitais. Distribuímos quase 40 milhões de cópias da mensagem de Dilma sobre religião.

Mas isso indica que necessariamente o tema religioso foi o determinante?

Mas então me diga que tipo de documento Dilma assinou sobre o caso Erenice? Por outro lado, veja o que se passou sobre esses temas religiosos. Mesmo o ato de Dilma com artistas foi dirigido por Leonardo Boff, teólogo.

Ou seja, na sua avaliação, João Santana cometeu uma interpretação equivocada?

Acho que ele não teve a sensibilidade de perceber o verdadeiro fator. Tenta fazer uma leitura dizendo que foi um caso político e não de foro íntimo/religioso.
Se realmente o debate religioso foi só “uma vírgula”, como ele falou, por que o publicitário não fez vacina para o caso Erenice? Ele estava no marketing, eu estava na rua.

Fonte: Folha de São Paulo

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