Alvo de polêmica quando disse que “o aborto é mais grave do que o estupro”, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, deixa neste domingo o comando da terceira mais importante arquidiocese do país, ao fim de uma gestão controvertida.
No início deste ano, ele excomungou médicos e autoridades que ajudaram a interromper a gestação de uma menina de 9 anos, violentada pelo padrasto, o que provocou reações contrárias de vários setores da sociedade. Segundo o bispo, ele teve o apoio da Santa Sé no caso. Um artigo publicado pelo jornal do Vaticano, à época, dizia que era mais importante pensar na vida da menina do que na excomunhão dos envolvidos no caso.
Seu sucessor será o beneditino dom Fernando Saburido. As comemorações pela posse no novo arcebispo incluem caminhada pelas ruas do centro e uma grande missa campal no Marco Zero, ponto tradicional de concentração popular dos grandes eventos da capital.
Dom Dedé – como é mais conhecido – sucedeu em 1985 a dom Hélder Câmara, que marcou sua atuação como um religioso com voz atuante contra a ditadura militar. Uma parte dos católicos avalia que dom Dedé desestruturou toda a obra deixada por dom Hélder e passou a demitir os padres progressistas. Foram vinte afastados, inclusive o secretário executivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Nordeste II, Hermínio Canova. Em sua gestão, ele fechou centros como o Instituto de Teologia de Recife e o Seminário Regional Nordeste II, de orientação inspirada na Teologia da Libertação. Entidades de ação destacada em Recife, como a Comissão de Justiça e Paz, criada por dom Hélder, também perderam espaço.
Em julho de 1989, o arcebispo proibiu que umbandistas lavassem a calçada da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, durante a festa da padroeira de Recife, pondo fim a uma tradição secular. Em janeiro de 2007, eleacionou o Vaticano contra o padre Edwaldo Gomes, que tem 53 anos de sacerdócio e 39 de atuação na paróquia de Casa Forte, um dos bairros mais sofisticados do Recife. Isso porque, durante a missa do jubileu de sacerdócio, o padre Edwaldo foi homenageado por um pastor anglicano. Há um preceito no Direito Canônico proibindo pessoas de outras religiões de participar da liturgia católica.
Dom Dedé não quis fazer um balanço da sua gestão. Ele deverá discursar neste domingo, durante a transmissão do cargo. Mas ao anunciar sua aposentadoria, ele disse ter a consciência tranquila e o dever cumprido. Inclusive no caso do aborto. A última vez em que se manifestou foi há oito dias, com uma nota paga, publicada nos jornais locais, ratificando que teve o apoio do Vaticano no caso polêmico da menina grávida de gêmeos.
Fonte: O Globo