Nesta entrevista ao site do Instituto Jetro, o jornalista Jamierson Oliveira fala sobre o índice de leitura dos evangélicos e faz uma avaliação sobre a qualidade da publicação de revistas e livros para o público evangélico, além das dificuldades enfrentadas pelos editores brasileiros.
Jamierson Oliveira é jornalista, editor-chefe da revista Povos, editor-geral da Bíblia Apologética de Estudo e ex-editor-chefe da revista Defesa da Fé. Também formado em missões e teologia, é professor na FTB – Faculdade Teológica Betesda, membro da Igreja Batista de Jundiaí. Confira a entrevista:
Segundo notícia publicada no site da Thomas Nelson, o mercado editorial evangélico experimentou um “boom” em 2004 com um aumento de 22,5% no faturamento das editoras. Este número prossegue de forma crescente? Ele é válido para o segmento evangélico?
Sim, o mercado editorial como um todo está experimentando um crescimento. Prova disso é chegada de gigantes como a Thomas Nelson americana e a Peniel argentina que comprou a Editora Vida, a maior editora interdenominacional do país. O problema é que mesmo com esse crescimento, as editoras continuam endividadas pelo alto custo da produção gráfica e a escassez de livrarias evangélicas no Brasil.
O governo brasileiro, através do Ministério de Cultura, tem feito um esforço para ampliar os índices de leitura no país. No meio dos evangélicos estes índices seriam os mesmos ou melhores? Há algum estudo sobre isso?
O IBGE, no último censo, apontou a média de leitura de 2 livros por ano da população geral, contra 4,5 livros entre os evangélicos. É notório o valor que se dá a leitura da Bíblia Sagrada em nosso meio, e o hábito de ler assiduamente as Escrituras tem desdobramento para outros livros evangélicos. Outro fato significante é que, desde as duas últimas décadas, a população evangélica não é só formada pela classe C, D e E; mas também pelas classes A e B, reconhecidamente mais preparadas cultural e academicamente.
Aparentemente os evangélicos investem mais na compra de livros do que na de revistas e jornais. Este seria um dos motivos para a existência de tão poucas revistas evangélicas no Brasil? Qual a sua visão sobre isso? Ou sobre essa preferência?
O maior problema para a publicação de revistas no Brasil não é a falta de clientes (assinantes e avulsas), mas a falta de anunciantes e a distribuição em bancas. As empresas ainda temem muito associar sua imagem a segmentos religiosos, com isso ficamos refém de editoras evangélicas. Sobre a distribuição, revistas evangélicas não são bem aceitas pelos jornaleiros, que preferem expor revistas pornográficas e outros títulos de grande circulação. Dessa forma, do tripé publicidade, bancas e assinaturas, só nos restam a última, tornando mais difícil o sucesso.
Há uma crítica que afirma que hoje, no Brasil, publicam-se mais livros focados naquilo que “o mercado quer” do que naquilo que “Deus quer falar”. Esta também seria a realidade das revistas?
Não vejo dessa forma. Temos um bom catálogo de livros, com excelentes temas. A culpa é mais dos leitores do que dos editores, leitores que gostam de superficialidades. Como em revistas há uma abrangência melhor de assuntos, esse problema quase não existe. Mesmo algumas que privilegiam o “ti-ti-ti gospel” trazem excelentes reportagens.
Quem são os leitores das revistas evangélicas? Você crê que há um público para cada revista ou são sempre os mesmos leitores?
A segmentação/customização em revistas é um fenômeno mundial. Com o crescimento da população evangélica, hoje na casa dos 40 milhões, é natural que haja especializações nas publicações periódicas. E apesar de existir um público específico, todas as revistas especializadas circulam com sucesso entre o público geral, isso porque em última análise, todas tratam sobre o reino de Deus.
Que ações as igrejas e suas lideranças podem conduzir com o objetivo de incentivar a leitura de seus rebanhos?
Acima de qualquer coisa, a edificação deve ser o propósito maior (ver Fp 4:8). Num segundo momento, o enriquecimento cultural do cristão. O crente deve ser incentivado a outros tipos de leituras também. Ler os clássicos da nossa literatura, livros de filosofia, até bula de remédio e contratos de bancos (risos). Ler é o mais poderoso aditivo cerebral. E todas essas leituras devem ser filtradas pela Palavra, que é a verdade de Deus (ver Jo 17:17).
Pela sua experiência com a Revista Povos, que está sendo publicada há pouco tempo, o que você diria para aqueles irmãos que sonham com a publicação de uma revista ou jornal voltado para o público evangélico?
Com um bom projeto editorial e gráfico, e muita persistência, você vai chegar lá. Se Deus quiser! Fui editor da revista especializada em apologética Defesa da Fé. Com ela rompemos barreiras nunca imaginadas, a começar pelo tema, quando apologética era um assunto pouco falado no Brasil. Agora, com a Povos, também estamos quebrando paradigmas e fazendo uma revista diferente e inovadora. Mas tudo isso com grande esforço, contando muitas vezes apenas com a fé!
Fonte: Instituto Jetro