O presidente do episcopado espanhol, monsenhor Ricardo Blázquez, considerou que a visita do papa Bento XVI à Espanha, neste sábado, “contribuirá para atenuar as tensões” entre o governo e os bispos.
“Acho que a visita contribuirá para atenuar estas tensões. Confio em que os encontros pessoais sirvam para que a relação seja mais fluida”, afirmou Blázquez em uma longa entrevista publicada neste sábado pelo jornal ABC (direita), em alusão à reunião do Papa com o chefe do governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, com quem se encontrou pela primeira vez.
Esta reunião era a mais esperada da agenda política desta visita, a primeira de Bento XVI à Espanha e a sexta de um Papa ao país, juntamente com o encontro que o líder da Igreja Católica pretende celebrar com a primeira-vice-presidente do governo espanhol, Maria Teresa Fernández de la Vega.
“Todos ganhamos com isto porque com atritos não nos saímos bem”, afirmou Blázquez, que está à frente do episcopado espanhol desde outubro de 2005, antes de garantir de parte do governo espanhol “existe a vontade de ter boas relações e da nossa também”. Desde que os socialistas chegaram ao poder na Espanha, em abril de 2004, a Igreja Católica espanhola tem sido uma das mais fervorosas opositoras a suas leis de fundo social, mas particularmente a que autoriza desde 4 de julho de 2005 o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Papa e Zapatero conversaram em clima cordial
Bento XVI e o presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, mantiveram neste sábado no Arcebispado de Valência uma reunião marcada por um clima de amabilidade, cortesia e cordialidade, e na qual não houve nenhuma reprimenda do Papa ao chefe do Governo.
Assim o asseguraram à Efe fontes do Executivo, ao término da audiência de pouco mais de meia hora realizada no marco da visita apostólica à Espanha iniciada hoje por Joseph Ratzinger, e na qual participou também a vice-presidente do Governo, María Teresa Fernández de la Vega.
Na conversa, transmitida pela televisão, a vice-presidente afirmou que as semelhanças entre o Estado e a Igreja são muito maiores do que as diferenças, e que ela é a pessoa designada para buscar soluções aos temas em comum.
A audiência do Pontífice com Zapatero serviu para repassar diversas questões de atualidade, qualificadas de “muito importantes ” pelo Governo espanhol, como o futuro da Europa, a família, a imigração, a situação na África (questão à qual dedicaram uma atenção especial) e a paz.
O secretário de Estado de Comunicação, Fernando Moraleda, afirmou que o clima foi “extraordinariamente cortês”, e que se falou “um pouco de tudo”.
Perguntado pela ausência de Zapatero na missa que será rezada amanhã pelo Papa em Valência, e que encerrará sua visita à cidade, Moraleda disse que não se deve dar importância a este assunto, e lembrou que os presidentes dos EUA, George W.Bush, e da França, Jacques Chirac, também não compareceram a atos litúrgicos do Papa.
De início, Bento XVI recebeu somente Zapatero. Após posarem para os fotógrafos, foram incorporados à reunião Fernández da Vega, a esposa do presidente, Sonsoles Espinosa, e os colaboradores do chefe do Governo.
Gritos de “fora, fora”, contra a presença de Zapatero em Valência e contra sua política em relação ao ETA foram escutados pelo chefe do Governo e pela vice-presidente, que, após a reunião, voltaram à Madri.
Bento XVI pede a bispos espanhóis que mantenham seu “impulso”
O papa Bento XVI pediu neste sábado aos bispos espanhóis reunidos na Catedral de Valência (leste) que mantenham seu “impulso” e sua atitude pastoral “em um tempo de rápida secularização”.
“Conheço e estimulo o impulso que dão à ação pastoral em um tempo de rápida secularização, que às vezes afeta inclusive a vida interna das comunidades cristãs”, afirmou o Papa em mensagem entregue aos bispos da Espanha presentes ao V Encontro Mundial das Famílias (EMF).
“Sigam, pois, proclamando sem desânimo que prescindir de Deus, agir como se não existisse ou relegar a fé ao âmbito meramente privado socava a verdade do homem e hipoteca o futuro da cultura e da sociedade”, disse-lhes o Papa antes de se reunir pela primeira vez com o chefe de governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero.
O líder da Igreja Católica, que visita a Espanha pela primeira vez desde o início de seu pontificado, em 19 de abril de 2005, lembrou das “profundas raízes cristãs da Espanha”.
“Saibam que acompanho de perto e com muito interesse os acontecimentos da Igreja em vosso país que tanto tem dado e que está chamada a dar testemunho da fé e sua difusão em muitas outras partes do mundo”, afirmou Bento XVI antes de insistir para que os prelados sigam por este caminho.
“Mantenham vivo e vigoroso este espírito que acompanha a vida dos espanhóis em sua história”, sustentou o Papa, que elogiou a atitude pastoral na hora de orientar “a consciência cristã sobre diversos aspectos da realidade em ocasiões que perturbam a vida eclesiástica”.
“Peço-lhes encarecidamente que mantenham e acrescentem vossa comunhão fraterna”, manifestou o Papa neste documento conhecido pouco mais de duas horas depois de sua chegada à Valência.
Bento XVI disse confiar em que o V Encontro das Famílias, que chamou de acontecimento “significativo” para a Igreja, contribua para “dar um novo impulso à família como santuário do amor, da vida e da fé”.
Papa anuncia que próximo Encontro das Famílias será no México
O Papa Bento XVI anunciou hoje na cidade espanhola de Valência que VI Encontro Mundial das Famílias acontecerá em 2009 na Cidade do México.
O anúncio foi feito pelo Papa ao finalizar a missa de encerramento do atual encontro, instituído por João Paulo II e que acontece a cada três anos.
“Agora – disse o Papa – tenho o prazer de anunciar que o próximo Encontro Mundial das Famílias será realizado em 2009 na Cidade do México”.
Bento XVI acrescentou que “a amada Igreja que peregrina na nobre nação mexicana e na pessoa do senhor cardeal Norberto Rivera Carrera, arcebispo daquela cidade, expresso já desde agora minha gratidão por sua disponibilidade”.
Valência acolheu desde 1 de julho o V Encontro Mundial da Família, iniciativa que tem como objetivo central reforçar a instituição familiar e seus laços nos cinco continentes.
Estas reuniões começaram em outubro de 1994, em Roma, coincidindo com a celebração do Ano Internacional da Família declarado pela ONU.
Fonte: AFP e EFE