Comunidades Eclesiais de Base e associações como Opus Dei e Canção Nova colaboram para renovar os números de católicos.
As missas da paróquia de Nossa Senhora Mãe da Igreja atraem milhares de fiéis na Vila Paris, em Belo Horizonte, onde padre Danilo Mamede Campos Rodrigues aderiu há 25 anos à Renovação Carismática Católica (RCC). São missas de cura e libertação, com intensa participação de homens, mulheres e crianças, que cantam e agitam os braços com entusiasmo, voz forte e rosto alegre, no mesmo estilo das celebrações de padre Marcelo Rossi e da Canção Nova, cujos santuários e programas de televisão são demonstrações de fé e devoção. O segredo é o acolhimento com que recebe os participantes, centenas deles vindos de longe, em busca de graças e milagres.
“Aposto na fé dos leigos”, disse o padre Danilo, satisfeito com o sucesso do trabalho de sua equipe.
Também a Paróquia de Nossa Senhora Rainha, no bairro de Belvedere, o mais sofisticado de Belo Horizonte, vive sempre cheia. Seus frequentadores são moradores da vizinhança e gente de outras regiões da cidade, incluindo pobres da periferia que chegam em busca de ajuda e assistência social. “A igreja é bem administrada e oferece atendimento médico e odontológico exemplar”, informa uma paroquiana, a dentista Ilka Sonara Carvalho Resende, elogiando o trabalho do pároco, padre Alexandre Fernandes de Oliveira. A igreja é confortável e acolhedora. Tem mil poltronas individuais almofadadas no interior e monitores de TV nas alas externas para quem não consegue entrar. A paróquia aceita cartões de crédito para o pagamento do dízimo, principal fonte de recursos.
Essas duas igrejas são exceções no cotidiano da prática religiosa, porque os católicos estão diminuindo. Correspondiam a 73,79% da população brasileira em 2000, mas vêm caindo, enquanto aumenta o número de evangélicos. A porcentagem de católicos, a ser confirmada pelo censo 2010 do IBGE, deve estar por volta de 65%. “A evasão de fiéis é talvez o problema mais grave que a Igreja sofre na sua consciência. Não é, mas ela se pôs como se fosse o problema mais grave. Evasão para onde? Fundamentalmente, para as igrejas pentecostais e neopentecostais”, analisa padre João Batista Libânio, professor da Faculdade de Teologia dos Jesuítas, em Belo Horizonte.
Se a debandada não é maior, é porque a Igreja Católica reage com leigos envolvidos nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), movimentos carismáticos e instituições como o Opus Dei, de tendências diferentes, mas todos comprometidos com a fé. “Devemos fortalecer as CEBs e os movimentos, com articulação, para levar adiante a evangelização”, incentiva d. Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC) e entusiasta das pastorais sociais. Aos 77 anos, ele aconselha a Igreja a investir na juventude, adaptando a linguagem cultural, “porque quem vai à missa hoje são pessoas de cabelos brancos”.
As CEBs sobrevivem, mas estão em baixa, na avaliação do sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, professor de mestrado em Ciências da Religião, na PUC – MG. “O prestígio delas é pequeno na hierarquia, mas continuam sendo uma referência para a sociedade, nas associações de bairros e movimentos de trabalhadores”, afirma. Há bispos que resistem às CEBs, mas a resistência não impediu que 80% do episcopado votassem a favor delas na última assembleia-geral da CNBB, em Brasília.
[b]Linha social
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“As CEBs estão muito fragilizadas, assim como a Teologia da Libertação, que tem nelas sua matéria-prima”, concorda Frei Betto, partidário e um dos teóricos da linha social que marcou a Igreja após as conferências episcopais de Medellín (1968) e Puebla (1979). “Nos seminários, não há mais interesse pela Teologia da Libertação, que é analisada nas universidades como um fenômeno do passado.” Frei Betto lamenta, “porque o fundamento da Teologia da Libertação não é o marxismo, mas a existência da pobreza, que continua na América Latina e no Brasil”.
Os projetos pastorais e a maneira de viver a fé são diferentes. “A Igreja são muitas”, constata o padre Cleto Caliman, coordenador do curso de Teologia da PUC de Minas. Exemplo disso, segundo ele, são as redes de TV católicas que, conforme observou um aluno na sala de aula, seguem várias orientações pastorais. Se a Igreja são muitas, há espaço para tendências diferentes. Os carismáticos e outros movimentos menores, todos mais voltados para o espiritual que para o social, atraem católicos que pareciam esquecidos de Deus.
“Eu me converti para o catolicismo, pois estava vivendo um ateísmo na prática e o Opus Dei me levou a refletir”, revela Maria Amélia Giannini, membro da Obra que São Josemaria Escrivá de Balaguer fundou em 1928, na Espanha, com o objetivo de levar os cristãos à santidade na rotina do dia a dia. O Opus Dei tem cerca de 2 mil membros no Brasil, a maioria casados, como a designer gráfica Maria Amélia e seu marido Fernando Giannini, engenheiro químico.
Além de casais, o Opus Dei tem mulheres e homens celibatários e um quadro de sacerdotes – 60 no País, entre padres de dedicação exclusiva e diocesanos. Missa e comunhão diárias, reza do terço, oração mental e leitura do Evangelho alimentam a vida espiritual de todos os membros. “Existe um estigma contra o Opus Dei, assim como preconceito com relação aos católicos, mas não temos nada de secreto, como se imagina”, diz Fernando. A Obra segue a linha pastoral da diocese.
[b]Evangelização[/b]
Entre os movimentos e novas comunidades surgidos nas últimas décadas, destaca-se a Associação Canção Nova, fundada em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, pelo padre Jonas Abib. “Reconhecida pela Santa Sé há dois anos, a Canção Nova é uma das maiores forças evangelizadoras da Igreja Católica no Brasil”, informa o professor Felipe Aquino, membro do movimento. São cerca de mil leigos, especialmente jovens consagrados integralmente ao serviço de evangelização pelo rádio, televisão, telefonia celular e internet. Tem casas de missão espalhadas por vários Estados e no exterior, incluindo Roma e Jerusalém.
A teóloga Tereza Cavalcanti, professora de Introdução à Sagrada Escritura, Pastoral Bíblica e Pastoral Popular da PUC-RJ, chama a atenção para o trabalho de duas mulheres, Dorothy Stang e Zilda Arns, que deram testemunho do Evangelho e dignificaram a missão da Igreja. “São dois ícones recentes, duas mulheres que, cada uma à sua maneira, foram mártires que morreram a serviço dos oprimidos.”
[b]Fonte: Estadão[/b]