Culto evangélico (Imagem: Canva Pro)
Culto evangélico (Imagem: Canva Pro)

A pesquisa de mercado “O Brasil Evangélico”, realizada pela empresa Data-Makers, traz uma série de dados relacionados a este grupo religioso e, entre eles, um que se destaca: em dois anos, os evangélicos serão o maior grupo religioso do país. Tal afirmação diverge de forma considerável de outros estudos já realizados, como o do demógrafo José Eustáquio Alves, que conjectura que os evangélicos devem ultrapassar o número de católicos por volta de 2032.

Na visão do cientista político e diretor do Observatório Evangélico, Vinicius do Valle, é preciso ter um pouco de cautela com informações produzidas por pesquisas de mercado, tendo em vista que não há o mesmo rigor metodológico e os objetivos do estudo são diferentes das pesquisas estatísticas e de outros estudos sociológicos.

“Para esse tipo de informação, a gente precisaria de dados mais consistentes. Estamos aguardando os dados do Censo em relação à religião e há dezenas de pesquisas feitas por institutos, como o Datafolha, Quest, entre outros, que não estão batendo com esses números”, ressaltou o pesquisador.

O teólogo Rodolfo Capler também considerou o estudo questionável, sobretudo por confrontar a legitimidade de previsões feitas por pesquisas mais embasadas, como a de José Eustáquio Alves, que é professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas palavras de Capler, “tais previsões chegam a parecer um factóide”.

“Essa pesquisa da Data-Makers parece ser um pouco frágil. Um dos principais problemas desta pesquisa é que ela parece desconsiderar o contexto social, histórico e cultural do Brasil, onde sobretudo a religião católica possui um profundo enraizamento, uma capilaridade profunda na sociedade. É óbvio que os evangélicos estão crescendo e assumindo a vanguarda em algumas questões, mas, ainda assim, penso que essa projeção de que os evangélicos serão o grupo maioritário carece de mais embasamento”, acrescentou o teólogo.

Capler pontuou, ainda, que uma pesquisa mercadológica tem objetivos comerciais, o que pode comprometer os resultados. “O crescimento do evangelicalismo no Brasil é um fenômeno complexo, que não pode ser resumido a essas projeções rápidas. Por exemplo, as projeções do José Eustáquio Alves oferecem um quadro mais realista, mais alinhado com as evidências atuais, tem gráficos, uma série de elementos que embasam a projeção dele, que também não é absoluta, é uma projeção”, realçou.

Estudo traz dados sobre comportamento de consumo do evangélico
Um compilado de dados da pesquisa foi disponibilizado no site da Data-Makers. Esse documento não mostra o detalhamento das informações e nem a metodologia. Consta, apenas, que o estudo foi feito em parceria com a Dolores Design de Soluções e foi realizado com mais de 1,7 mil brasileiros, entre evangélicos e não evangélicos.

O documento com o resumo da pesquisa recebe o título “10 coisas que você precisa saber sobre o Consumidor Evangélico”. A primeira delas é que os evangélicos são 35% da população no país, enquanto os católicos, 39%. Já a segunda informação é que, em dois anos, os evangélicos serão o maior grupo religioso do Brasil. Na sequência, o estudo revela que, em comparação aos não evangélicos, os fiéis deste segmento cristão são bem mais envolvidos com a religião, comportamento que também se reflete nas decisões de compra, que seriam influenciadas, em grande parte, pela religião.

A pesquisa aponta, ainda, que um terço dos evangélicos não se sente atendido pelo mercado, enquanto mais da metade deles não se sentem representados pelas marcas. O estudo mapeou, inclusive, as redes sociais mais acessadas por este segmento religioso, estando o Instagram em primeiro lugar, seguido pelo YouTube.

Fonte: Comunhão

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