Considerado a consciência moral da África do Sul, Desmond Tutu, que anunciou nesta quinta-feira sua retirada da vida política, contribuiu para derrubar o apartheid, colocando sua verve a serviço da reconciliação racial no país e da paz no mundo.
“Tive a imensa chance de contribuir um pouco com o desenvolvimento de nossa Nação, com uma nova democracia apaixonante e exasperante”, lançou nesta quinta-feira o ex-arcebispo anglicano da Cidade do Cabo e prêmio Nobel da Paz (1984), com sua franqueza habitual.
“Farei 79 anos no dia 7 de outubro e me retirarei da vida pública”, anunciou, explicando que precisa “reduzir” seu ritmo.
Vestido com a tradicional túnica púrpura, provocou risos na assembleia para a qual anunciou sua despedida, prometendo servir, a partir de agora, cada manhã, “uma xícara de chocolate quente” à sua mulher “como deve fazer um marido devotado.
Esta capacidade de pontuar seus discursos com risos, passos de dança ou lágrimas, valeram-lhe a afeição sincera de seus compatriotas, que reconhecem seu imenso trabalho para livrá-los do apartheid.
Nos anos 80, Monsenhor Tutu defendeu a aprovação de sanções econômicas internacionais contra o regime segregacionista, organizando grandes passeatas pacíficas na Cidade do Cabo.
Na chegada da democracia, em 1994, o promotor da fórmula The Rainbow Nation “Nação Arco-Íris” presidiu a Comissão Reconciliação e Verdade (TRC), criada para ajudar a virar a página dos exageros cometidos sob o antigo regime.
Arco-Íris porque a Republica da África do Sul com a sua diversidade de culturas, idiomas, é uma sociedade multiétnica onde juntamente com a maioria negra encontramos as minorias branca, mestiça e indiana.
Para se ter uma ideia, o país possuim 11 línguas oficiais, entre elas as africanas como o Zulu, o inglês e o africâner, língua semelhante ao holandês.
Um câncer de próstata, diagnosticado em 1997, poderia ter posto um ponto final em sua carreira, mas este homem de uma vitalidade transbordante saiu logo da aposentadoria anunciada em 2000.
Possuidor de grande senso de humor, às vezes dirigido contra ele próprio, criticou os erros do ex-presidente Thabo Mbeki na luta contra a Aids ou os excessos judiciais de Jacob Zuma antes de sua ascensão à chefia do Estado.
Nascido em 7 de outubro de 1931 em Klerksdorp, a uma hora de Johannesburgo, Desmond Tutu teve poliomielite em criança. Marcado por essa situação, desejou tornar-se médico, mas sua família não tinha como pagar seus estudos.
Tornou-se, então, professor, demitindo-se em seguida para protestar contra a educação de qualidade inferior reservada aos negros, entrando para o seminário. Ordenado padre aos 30 anos pela Igreja Anglicana, estudou e ensinou na Grã-Bretanha e em Lesoto, até se estabelecer em Johannesburgo em 1975.
Em 1986, foi nomeado arcebispo, tornando-se o primeiro negro a chegar à liderança da Igreja Anglicana da África do Sul.
Desmond Tutu é casado desde 1955 com Leah, com quem teve quatro filhos.
[b]Fonte: AFP[/b]