O major da Polícia Militar Adílson Paes de Souza participa na sexta-feira de uma reunião da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. Convidado pelo desembargador Antônio Carlos Malheiros, é a primeira vez que um oficial da corporação integra uma organização civil destinada a denunciar casos de abuso dos direitos humanos.
O major acredita que há espaço para discutir na comissão as suspeitas de que PMs participam de chacinas em São Paulo. Conforme publicou o Estado, um em cada três casos do gênero esclarecidos entre janeiro do ano passado e julho deste ano teve a participação de PMs. ‘Devemos trabalhar com esse assunto. Afinal, se é uma Comissão de Justiça e Paz e existe alguém participando de um grupo de chacinas, seja policial ou civil, essa pessoa está cometendo uma grande injustiça e perturbando a paz.’
Ele ainda não sabe qual será o trabalho que fará no grupo, mas considera que pode ajudar a cobrar dos órgãos públicos agilidade e transparência nas investigações. ‘Podemos colaborar com o secretário (de Segurança Pública) Ronaldo Marzagão, que sempre militou na área dos direitos humanos.’
Há 25 anos na Polícia Militar – com destaque para os anos de 1987 e 1990, quando foi oficial no Batalhão de Choque das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) -, Souza afirma ter visto ao longo desses anos tanto policiais comprometidos com a legislação e cientes do que podem e o que não podem fazer quanto profissionais com desvio de conduta. ‘O desafio é identificar, punir e retirar do nosso meio os maus policiais, para que eles não contaminem os que trabalham conforme a lei. A questão é mapear, saber onde está o problema. Você não precisa descobrir necessariamente quem foi o autor do crime. Pode identificar as unidades com mais problemas ou denúncias para agir sobre elas. Dependendo do caso, pode tratar de forma psicológica ou penal.’
O major acredita que os graves problemas sociais de São Paulo, a exposição dos policiais à violência cotidiana e a dura rotina em um trabalho com forte tensão e stress podem causar comportamentos inadequados. ‘Esse problema deve ser enfrentado não só no âmbito da polícia, mas com entidades conceituadas, ligadas a universidades, com equipe multidisciplinar, de forma que se permita tratar do problema’, afirma.
Mesmo sem saber citar avanços corporativos no enfrentamento do problema, o major tem esperanças. ‘A crise abre espaço para as melhores soluções’, observa. No entanto, o major ressalta não ter ilusões e acreditar que o trabalho a ser desenvolvido na comissão pode mesmo causar desconfiança entre os integrantes da corporação. ‘Sempre que você se mexe, há aqueles que vêem o movimento com ceticismo e aqueles que elogiam. Sei que estou tranqüilo, porque não estou fazendo nada errado. Não se estabelece a ordem sem se respeitar a lei.E a PM deve se esforçar para chegar a esse objetivo.’
Fonte: Estadão