Um casal teve seu casamento adiado três vezes por causa de protestos de um grupo extremista hindu. Eles se casaram finalmente no dia 11 de janeiro, em Jabalpur.

Pedro Abraão, 38, e Meena Gond, 36, pediram permissão para se casarem no cartório de Jabalpur em outubro de 2006. O Ato de Casamentos Especiais requer que o cartório pergunte se há objeções para que o casal peça o registro de seu casamento. As objeções devem ser apresentadas em um período de 40 dias.

Quando os 40 dias expiraram em novembro passado, o juiz de paz Deepak Singh se recusou a registrar o casamento, dizendo que ele havia recebido objeções de um membro do grupo extremista Dharma Sena.

“Pedro é cristão, e suspeitamos que ele tenha seduzido essa inocente mulher tribal por meio de dinheiro”, disse Sudhir Aggarwal, do Dharma Sena da região de Mahakaushal. “Meena será forçada a mudar de religião depois.”

Meena é animista. O casal se conheceu por meio de parentes e não se importa com suas diferenças religiosas.

Cerimônia adiada

O juiz de paz pediu para Pedro e Meena voltarem em 20 de dezembro. Mas, para a tristeza do casal, ele adiou a cerimônia de casamento enquanto se investigava a queixa feita por Sudhir.

Uma segunda data foi marcada para 4 de janeiro. Mas, naquele dia, um grupo de 65 a 70 membros do Dharma Sena agitava bandeiras alaranjadas em volta do cartório.

Uma fonte disse que, apesar de a noiva ter uma deficiência física, caudasa por uma paralisia infantil, o casal teve que fugir correndo do grupo.

Deepak, o juiz de paz, negou que tenha havido sonegação de justiça. Ele disse à agência de notícias Compass: “Como eu recebi duas objeções, temos que investigar o assunto. Ao saber que as queixas eram sem fundamento, em 8 de janeiro demos permissão para os dois se casarem. Eles marcaram a data para 11 de janeiro e, depois de registrarmos suas declarações, emitimos a certidão de casamento”.

Deepak também negou que o Dharma Sena tenha se envolvido nas várias vezes em que o casamento foi adiado.

Acusações sem fundamento

O irmão de Meena, Radhey Gond, se opôs à acusação de Sudhir de que missionários cristãos encorajavam pessoas como Pedro a converter tribais pobres.

“Pedro é um diarista há anos. Como um puxador de jinriquixá suborna uma mulher se ele mesmo não tem dinheiro?”, ele disse.

Radhey disse que ficou comovido com a decisão de Pedro de se casar com Meera. “Ela mal pode andar. Sempre achamos que ninguém iria querer se casar com ela.”

John Dayal, secretário geral do Conselho Global de Cristãos Indianos, disse ao Compass que Sudhir e os outros não tinham base legal para fazer a queixa. “Eles estão, na verdade, cometendo um crime de danos físicos, sociais e psicológicos através de assalto, boicote ou marginalização social.”

Indira Iyenger, presidente do Fórum Cristão Madhya Pradesh-Chattisgarh concordou. “Essa é outra tentativa dos extremistas de perturbar a comunidade cristã. Pedro e Meera são adultos, e é um direito deles se casar.”

Incentivos ao casamento

Além disso, Indira acrescentou, se alguém pode ser acusado de oferecer atrativos financeiros esse é o governo de Madhya Pradesh, liderado pelo partido Bharatiya Janata. Ele tem oferecido um incentivo de 50 mil rúpias (2.209 dólares) para qualquer não-tribal que se casar com algum tribal.

O comissário do bem-estar tribal, K.K. Singh, admitiu que o Estado tem oferecido esse incentivo, mas ele não “estava certo” se ele era estendido a cristãos e muçulmanos.

“O objetivo disso é acabar com a discriminação social e os intocáveis entre as castas hindus. Como as religiões que não reconhece as castas podem ser beneficiadas?”, argumenta Singh.

No entanto, o chefe do partido do Congresso de Jabalpur, Naresh Saraf, disse ao jornal Telegraph que o projeto não faz referência à religião.

Fonte: Porta Abertas

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