Mais de 400 crianças retiradas do rancho de uma seita polígama há dois meses começaram a se encontrar com seus pais nesta segunda-feira, horas após uma juíza acatar a decisão da Suprema Corte do Texas, de que a tomada da guarda das crianças foi injustificada.

“É simplesmente um grande dia”, disse Nancy Dockstader, com os olhos cheios de lágrimas, ao abraçar Amy, sua filha de nove anos, do lado de fora de um abrigo para menores em Gonzales, a cerca de 105 km de San Antonio. “Estamos tão gratos.”

Sua filha e outros quatro filhos estão entre os cerca de 430 crianças cuja libertação foi ordenada após dois meses sob custódia do Estado, grande parte desse tempo em abrigos para menores de idade.

A juíza Barbara Walther respondeu a uma decisão da Suprema Corte do Texas da semana passada ao assinar uma ordem de que as crianças deveriam ser libertadas dos abrigos. Walther permitiu aos pais buscarem seus filhos nesta segunda, encerrando um dos maiores casos de custódia de crianças da história dos EUA.

Dockstader e seu marido, James, seguiram a Corpus Christi e Amarillo para buscar seus outros filhos. “Iremos buscar os outros”, disse Dockstader.

A ordem da juíza requer que os pais fiquem no Texas, para participarem de aulas sobre ser pai e para permitirem que as crianças sejam examinadas em uma investigação de abuso.

Poligamia

Mas a decisão da juíza não coloca outras restrições sobre os pais, como pedir que eles renunciem à poligamia ou que os force a sair da fazenda da YFZ (Yearning For Zion), em Eldorado, da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

Na tarde desta segunda, o líder da seita Willie Jessop disse que a igreja não permitirá mais o casamento com meninas menores de idade. Jessop afirmou que a sua seita tem sido muita mal entendida, mas afirmou que a igreja não irá sancionar casamentos de garotas menores de idade e irá aconselhar os membros contra tais uniões. Ele insistiu que os casamentos dentro de sua igreja sempre foram consensuais.

O Serviço de Proteção às Crianças removeu todas as crianças do rancho em uma ação policial no dia 3 de abril, iniciada após uma denúncia de abuso supostamente feita por uma mãe de 16 anos que estava sendo abusada por seu marido de meia idade. As ligações agora estão sendo investigadas como trotes, mas as autoridades acharam que as crianças estavam sob risco, alegando que os ensinamentos da igreja pressionavam as meninas menores de idade para o casamento e o sexo.

A seita nega que qualquer criança tenha sido abusada, e seus membros dizem estar sofrendo perseguição religiosa –a seita crê que a poligamia leva à glorificação no céu.

Marleigh Meisner, porta-voz da agência de proteção às crianças, disse que as autoridades ainda se preocupam com a segurança das crianças, e a investigação sobre possível abuso irá continuar.

A Suprema Corte confirmou na quinta-feira a decisão de um tribunal de apelações que reverteu a decisão de Walther de abril, que colocou as crianças da fazenda em abrigos.

Justiça

A alta corte e a corte de apelações rejeitaram o argumento do Estado de que todas as crianças estavam sob risco imediato de abuso sexual.

A Terceira Corte de Apelações afirmou que o Estado falhou em mostrar que mais de cinco entre as adolescentes fossem abusadas sexualmente e não mostraram evidências de abuso sexual ou psicológico contra as outras crianças.

Metade das crianças mandadas aos abrigos tinham menos de cinco anos de idade. Todas as crianças, incluindo mães menores de idade, têm a permissão para voltar para seus pais, mas é possível que autoridades movam ações individuais no futuro.

Não está claro quantas pessoas devem voltar imediatamente à fazenda. Muitos dos pais compraram ou alugaram casas em Amarillo, San Antonio e em outros locais no Estado.

Rod Parker, porta-voz da seita, disse que alguns de seus advogados aconselharam os pais a ficarem longe do rancho por enquanto, mas a maioria das famílias quer retornar para que as crianças possam continuar recebendo a educação que recebiam na escola da seita antes da ação policial.

A ordem da juíza não encerra uma investigação criminal paralela. As autoridades do Texas coletaram, na semana passada, DNA do líder preso Warren Jeffs como parte da investigação de sexo com menores, entre 12 a 15 anos. Ele foi condenado em Utah como cúmplice de estupro e está preso no Arizona esperando o julgamento de outras acusações.

A seita é uma facção que se separou da Igreja Mórmom, que renunciou à poligamia em 1890.

Fonte: Folha Online

Comentários