O diretor do FBI, Robert Mueller, defendeu nesta segunda-feira o uso de informantes dentro das mesquitas americanas, apesar das denúncias de organizações muçulmanas de que fiéis e clérigos estão sendo visados, em vez de possíveis terroristas.
As declarações de Mueller vieram poucos dias depois de uma organização muçulmana sediada em Michigan ter pedido ao Departamento de Justiça que investigasse denúncias de que o FBI estava pedindo a fiéis para espionarem líderes islâmicos e outros frequentadores das mesquitas.
Uma reação similar aconteceu após a divulgação, no início deste ano, de que o FBI havia colocado um espião em mesquitas no sul da Califórnia.
“Nós não investigamos lugares, nós investigaremos indivíduos”, disse Mueller durante um breve encontro com jornalistas em Los Angeles.
“Na medida em que possa haver provas ou outras informações de atitudes criminosas, então vamos […] fazer essas investigações. […] Nós continuaremos a fazê-lo.”
Ele classificou as relações com os muçulmanos americanos de “muito boas”, mas reconheceu haver divergências, sem dar detalhes.
O Conselho de Organizações Islâmicas de Michigan enviou uma carta ao procurador-geral dos EUA, Eric Holder, depois que mesquitas e grupos islâmicos relataram que membros da comunidade haviam sido convidados a monitorar as pessoas que iam às mesquitas e as doações que faziam. O escritório do FBI em Detroit negou as acusações.
No caso da Califórnia, as informações sobre o informante que monitorava o Centro Islâmico de Irvine surgiu em fevereiro durante uma audiência de detenção de um cunhado de um guarda-costas do líder terrorista saudita Osama bin Laden, um afegão naturalizado americano chamado Ahmadullah Niazi. Ele é acusado de mentir sobre suas ligações com o terrorismo no processo de naturalização e no pedido de passaporte.
Líderes muçulmanos locais dizem que suspeitavam pelo menos desde 2006 que o FBI estava tentando infiltrar-se nas organizações muçulmanas da região.
“A história contesta as afirmações do senhor Mueller, pelo menos no sul da Califórnia”, disse Shakeel Syed, diretor-executivo do Conselho Shura Islâmico do Sul da Califórnia. “Isso não alivia nada. Ele só continua a exibir a enorme arrogância demonstrada pela agência em considerar os membros da comunidade muçulmana, clérigos, mesquitas, como suspeitos.”
Syed está entre os líderes da comunidade que buscam na Justiça acesso aos registros de vigilância do governo.
Agentes do FBI e procuradores dizem que a espionagem nas mesquitas é uma das melhores armas para descobrir terroristas ocultos ou ameaças à segurança nacional, mas a prática tem dado origem a uma questão política e juridicamente delicada com os muçulmanos que se sentem injustamente monitorados.
“O FBI tem de fazer o que precisa fazer, certamente,” disse Syed. Mas a agência está “tentando incitar e fazer armadilhas [contra]” pessoas seguidoras da lei.
Mueller também disse que não haverá mudança nas prioridades do FBI na nova administração.
“Eu não esperaria de forma alguma que fôssemos tirar o nosso pé do acelerador no combate ao terrorismo”, disse ele. “Minha expectativa é que veremos um acréscimo em termos de recursos destinados às nossas responsabilidades criminais nacionais, mas não vamos […] relaxar as nossas responsabilidades quando elas vierem do contraterrorismo ou da contrainteligência.”
Fonte:Folha Online