Apesar de questões de cunho religioso terem criado polêmica entre os candidatos na corrida pela prefeitura de São Paulo, “eleitores-fiéis” mostraram-se resistentes à influência do tema na disputa pela administração municipal deste domingo.

A questão religiosa esteve no centro do debate pelo comando da maior cidade do país desde o primeiro turno, com a discussão em torno da influência da Igreja Universal do Reino de Deus na candidatura de Celso Russomanno, cujo partido, o PRB, é ligado à essa igreja.

No segundo turno, sem a presença de Russomanno, boa parte da disputa entre o petista Fernando Haddad –apontado pela pesquisa como provável vencedor–, e o tucano José Serra, girou em torno do kit anti-homofobia criado na gestão de Haddad à frente do Ministério da Educação. Alvo de críticas de setores religiosos, o material foi apelidado de “kit-gay”.

“Os políticos estão achando que se aconchegando aqui na igreja eles vão conseguir puxar o povo ali para o lado deles”, disse a administradora Gislaine Aparecida da Silva, 32 anos, ao deixar uma missa celebrada pelo bispo católico dom Fernando Figueiredo, na zona sul da capital.

“Mas no final, a gente vota em quem quer”, acrescentou.

Tanto Haddad quanto Serra compareceram a missas celebradas por dom Fernando e pelo padre Marcelo Rossi durante a campanha.

Na disputa pelo segundo turno, o pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, afirmou que líderes evangélicos não dariam “refresco” a Haddad, e criticou assiduamente o kit anti-homofobia, que acabou não sendo distribuídos em escolas como o previsto por decisão da presidente Dilma Rousseff.

Como reação às críticas de Malafaia, o petista convocou reunião com lideranças de 20 cultos evangélicos, que publicaram manifesto defendendo Haddad.

Na campanha eleitoral no primeiro turno, um texto publicado em maio de 2011 pelo presidente do PRB, Marcos Pereira, que coordenou a campanha de Russomanno, associando o kit anti-homofobia à influência da Igreja Católica foi amplamente divulgado em redes sociais no primeiro turno.

Em setembro, a Arquidiocese de São Paulo emitiu uma nota de repúdio contra a publicação, afirmando que o PRB é “manifestadamente ligado à Igreja Universal”.

[b]”RELIGIÃO É UMA COISA, POLÍTICA É OUTRA”
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Fiéis católicos e evangélicos ouvidos pela Reuters, no entanto, consideram que a polêmica não é determinante na hora de votar.

“Já vi alguns padres pegando pelo lado da consciência do voto, não indicando um nome ou outro”, disse o gerente de vendas Franklin Albuquerque, 40 anos, católico. Ele acrescentou que não ouviu menção ao kit anti-homofobia em sermões.

“Religião é uma coisa, política é outra coisa”, acrescentou Albuquerque.

Um eleitor católico, que frequenta a missa dom Fernando toda a semana, disse que não concorda com o kit anti-homofobia. “Mas isso não me impede de votar no Haddad”, afirmou ele, que não quis se identificar.

A Igreja Universal, que durante o primeiro turno apoiou a candidatura de Russomanno, seguiu a postura do candidato do PRB no segundo turno e manteve-se neutra. Em culto realizado no domingo da votação, na sede da igreja em São Paulo, não houve menção do pleito. Outras igrejas evangélicas adotaram posição durante a campanha, porém não de maneira homogênea.

“A gente ouve falar, nas instituições, mas não indicam um candidato ou outro”, disse o empresário Emerson Assales, 33 anos, fiel da Universal.

Pesquisa boca de urna do Ibope aponta vitória de Haddad com 57 por cento dos votos válidos, contra 43 por cento de Serra.

Segundo levantamento realizado pelo Ibope e publicado no sábado, Haddad tem entre evangélicos 64 por cento dos votos válidos frente a 36 por cento de Serra. No eleitorado católico, a preferência é a mesma, mas a margem é menor: 58 por cento contra 42 por cento.

[b]Fonte: Estadão[/b]

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