Padres e bispos ligados ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi) foram espionados no período da ditadura militar pela Assessoria de Segurança e Informações (ASI), um braço do Serviço Nacional de Informações (SNI) que funcionava na Fundação Nacional do Índio (Funai).

As 92 caixas de documentos reservados, guardadas por mais de 30 anos numa sala da Funai, foram liberadas para pesquisa em janeiro, informa matéria do repórter Rubens Valente, da Folha de São Paulo.

O Cimi foi fundado em abril de 1972, mas foi sob o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979) que teve início o monitoramento das atividades missionárias em áreas indígenas. A rede de informações ia desde o alto escalão da Funai, passava pelas delegacias regionais do órgão e pelos capitães de postos indígenas.

O “dossiê Cimi” engloba em torno de 2 mil páginas, revela Valente. Num dos documentos, o general de Exército Ismarth de Araújo Oliveira, que presidiu a Funai de 1974 a 1979, queixou-se dos bispos católicos Pedro Casaldáliga e Tomás Balduíno, co-fundadores do Cimi, porque “essa ala esquerdista da igreja” quer usar o índio como instrumento, “criando agitação em áreas que estão tranquilas”.

O Conselho de Missão entre Índios (Comin), da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), não tem conhecimento oficial de espionagem de pastores que trabalharam em áreas indígenas no período da ditadura militar. Também não teve oportunidade, ainda, de chegar aos arquivos reservados da Funai.

Mas está registrado nos arquivos da IECLB, que abriu, inclusive, processo administrativo para apurar suas causas, a expulsão, em 1979, do casal de missionários Roberto e Lori Altmann da Aldeia Indígena 7 de Setembro, no Parque Aripuanã, localizada entre o município de mesmo nome, no Mato Grosso, e Cacoal, em Rondônia.

“O motivo alegado para a nossa expulsão era a de que não correspondíamos ao que a Funai esperava do trabalho de missionários e incompatibilidade com funcionários do órgão na área”, relatou o pastor Roberto para a ALC.

Lori e Roberto desenvolviam, então, o pastorado de convivência na comunidade indígena dos suruí. “Nós passamos a morar na aldeia 7 de Setembro, dentro do Posto da Funai, e isso gerou tensões”, avaliou Roberto. A convivência do casal Zwetsch com os suruí foi breve, de setembro de 1978 a outubro de 1979.

Fonte: Maracaju News

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