Se o Opus Dei foi negativamente representado no blockbuster baseado no romance “O Código Da Vinci”, de Dan Brown, tudo indica que ganhará imagem bem mais atraente em outro filme que trata da organização católica.
O diretor britânico Roland Joffe, célebre por seus filmes indicados ao Oscar “Os Gritos do Silêncio” e “A Missão”, está produzindo “There Be Dragons”, filme ambientado durante a Guerra Civil Espanhola e que trata em parte da vida do fundador do Opus Dei, José Maria Escrivá.
A fotografia principal já foi concluída, e agora Joffe está na sala de edição. O objetivo é que o filme, cujo elenco inclui a Bond girl Olga Kurylenko, esteja pronto para chegar aos cinemas no outono americano de 2010.
A intenção original de Joffe foi rejeitar o projeto, que, devido a sua temática religiosa e ao perfil controverso do Opus Dei, promete atrair escrutínio maior que a maioria dos filmes.
Em “O Código Da Vinci” o Opus Dei é mostrado como uma seita cercada de segredos e que recorre a assassinatos para defender um acobertamento fictício que a Igreja Católica teria feito durante 2.000 anos. A organização também é criticada por liberais católicos que veem seu poder e seu alcance com desconfiança e por ex-integrantes que falam de coerções e mortificações corporais.
Mas Joffe mudou de ideia quando assistiu a um vídeo de Escrivá discursando para uma multidão.
Uma menina judia perguntou ao sacerdote, que foi canonizado em 2002, se ela deveria se converter ao catolicismo. Ciente de que isso magoaria os pais dela, Escrivá lhe disse que não.
“Uma das coisas que me impressionaram muito em José Maria foi o fato de ele perceber que a santidade não requer que você se retire para uma ordem religiosa, não requer que você se torne sacerdote”, disse Joffe em teleconferência recente.
“A santidade real, os atos santos, podem ser realizados por pessoas comuns em suas vidas cotidianas. Era uma ideia muito radical na época dele.”
Propaganda?
O Opus Dei (o nome significa “obra de Deus”) ensina os católicos a buscar a santidade através de seu trabalho. A organização católica conservadora foi fundada em 1928 e tem cerca de 85 mil membros, dos quais 2.000 são sacerdotes.
Em lugar de fazer uma cinebiografia de Escrivá, Joffe escreveu um roteiro que cerca o padre de personagens fictícios e trata de temas universais como o amor, a traição e a redenção.
Os 30 milhões de dólares do orçamento do filme vieram em parte de uma empresa de mídia e em parte de cerca de 100 investidores liderados pelo produtor Ignacio Sancha, financista espanhol e membro do Opus Dei. Sancha também muniu Joffe de um membro importante do Opus Dei para lhe prestar assessoria no set de filmagens.
Mas, apesar de sua simpatia evidente com os ensinamentos de Escrivá e apesar do apoio financeiro e logístico dado por membros da organização, Joffe rejeitou os temores de que “There Be Dragons” será uma obra de propaganda do Opus Dei.
“Quando escrevi (a carta aceitando o projeto), eu disse aos produtores, um dos quais é membros do Opus Dei: ‘Terei liberdade de escrever o que eu quiser?’ Ele falou: ‘A única razão pela qual procuramos você é que você tenha liberdade de escrever o que quiser’.”
Sancha concordou. “Roland jamais se envolveria em propaganda, nem de esquerda nem de direita”, disse à Reuters.
Propaganda ou não, “There Be Dragons” será saudado por membros do Opus Dei que acreditam que sua organização tenha sido vilipendiada por representações equivocadas na cultura popular.
“Antigamente eu pensava que o Opus Dei fosse uma seita”, disse Sancha, acrescentando que ingressou no grupo há 20 anos.
“Eu estava cansado de ouvir de um lado que era uma seita e de outro que era fantástico. Fui até eles, e eles me deram acesso a tudo. Cheguei à conclusão de que não é uma seita, mas sim uma das partes mais modernas da Igreja Católica.”
Joffe disse que a influência exercida pelo Opus Dei tem sido exagerada.
“Como poderia ser tão influente?”, disse. “Pode ter influência na Igreja, imagino. Mas chequei para saber quantos cardeais pertencem ao Opus Dei e acho que talvez haja um.”
Fonte: UOL