O debate sobre a imigração avivou o ódio racista e a proliferação, nos Estados Unidos, de grupos extremistas, segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira, 10, pela organização de direitos humanos Centro Legal sobre a Pobreza no Sul dos EUA (SPLC, na sigla em inglês).

A entidade, com sede em Maryland, disse hoje que as estatísticas policiais indicam que, de 2003 a 2006, os crimes de ódio contra os latinos aumentaram 35%.

Os grupos que fomentam o ódio racial cresceram 5% em 2007, até 888, 44 mais que em 2006, afirmou Mark Potock, do SPLC. O crescimento desses grupos pode ser atribuído à “exploração feita pelos grupos de ódio do debate sobre a imigração e se soma a outros 300 grupos antiimigrantes que se formaram nos últimos três anos”, acrescentou.

O SPLC inclui em sua classificação de grupos de ódio organizações e movimentos como agrupamentos neonazistas, separatistas negros, gangues de motociclistas, a Liga de Defesa Judaica, e a Igreja Nova Jerusalém.

Este ano, o SPLC acrescentou em sua lista a Federação Americana pela Reforma de Imigração (Fair, na sigla em inglês), organização que, em seu site, rejeita essa qualificação. De acordo com o FBI (polícia federal americana), os “crimes de ódio e preconceito, que vão desde os linchamentos à queima de cruzes e destruição de sinagogas, são um fato triste da história dos EUA”. Outros 15,5% tiveram relação com a orientação sexual das vítimas e 12,7% “se deveram à origem étnica ou nacional”.

Além disso, 66,4% dos crimes por motivos raciais foram originados por preconceito do agressor contra os negros; 21% de ódio contra os brancos, e o resto sofreu violência por ter origem asiática ou indígenas americanos.

Para o FBI, os ataques contra os hispânicos não respondem a “preconceitos raciais”, mas à origem nacional.

Entre as vítimas de delitos de origem étnica ou nacional, 62,8% foram atacados pelo preconceito contra hispânicos, segundo dados do FBI.

As estatísticas policiais também indicam que os autores desses crimes eram brancos (58,6%), negros (20,6%) e indivíduos “de raças múltiplas” (5,7%).

Relatório da ONU

O racismo e a discriminação a certas minorias étnicas continuam em diversos setores dos Estados Unidos, do acesso à moradia e à escola até a justiça, segundo as conclusões divulgadas pelo Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação Racial.

O documento afirma que minorias como os afro-americanos e os hispânicos “estão concentrados de forma desproporcional em áreas residenciais pobres caracterizadas por condições de moradia inferiores, com oportunidades limitadas de emprego, acesso inadequado à saúde, escolas mal dotadas e alta exposição ao crime e à violência”.

O comitê, por isso, pede para que o Governo americano intensifique seus esforços para reduzir “o fenômeno da segregação residencial baseada na origem racial, étnica ou natural”.

O organismo da ONU se diz preocupado com “a persistência de uma segregação racial nos colégios públicos” e pede a análise das causas deste fenômeno para elaborar estratégias efetivas para seu fim.

O texto também constata discriminação racial no sistema de justiça criminal, com um desproporcional número de pessoas pertencentes a minorias entre a população reclusa, “o que se deve supostamente ao tratamento mais severo que estes acusados, especialmente os afro-americanos, recebem em vários períodos do processo criminal”.

Também critica o “diferente impacto” que teve o furacão Katrina, em 2005, nos residentes afro-americanos de baixa renda, “muitos dos quais continuam desabrigados mais de dois anos depois” do desastre natural.

Por isso, pede à administração que aumente seus esforços para facilitar o retorno dos desabrigados a seus lares ou lhes garanta o acesso à moradia.

A discriminação racial nos EUA afeta também a população indígena, segundo o comitê, que se mostra preocupado pelas informações sobre “atividades – como testes nucleares e armazenamento de produtos tóxicos – realizadas ou planejadas em zonas de significado espiritual ou cultural para os nativos americanos”.

Durante os dias em que o Comitê estudou o caso americano, diversas ONGs e grupos defensores dos direitos humanos criticaram a atitude da delegação oficial dos EUA, composta por vários funcionários enviados por Washington, de negar que as desigualdades que existem no país sejam causadas pela discriminação racial.

Fonte: Último Segundo

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