Membros de um grupo religioso minoritário do Iraque disseram na quinta-feira temer serem aniquilados e pediram ajuda depois de atentados suicidas terem matado vários de seus integrantes no que seria, possivelmente, o pior ataque do tipo ocorrido no país até agora.
Casas de argila frágeis e localizadas no centro de Kahtaniya, um dos dois vilarejos atingidos na terça-feira por caminhões de lixo carregados com explosivos, ficaram destruídas ao longo de vários quarteirões.
Pedaços de concreto e de alumínio retorcido podiam ser vistos na rua ao lado das casas destruídas de centenas de membros da Yazidi, um grupo religioso considerado infiel pelos militantes sunitas. Estima-se que o número de mortos tenha ficado entre 175 e 500.
“O objetivo deles é nos aniquilar, criar problemas e matar todos os yazidis porque não somos muçulmanos”, afirmou em Kahtaniya Abu Saeed, um senhor de idade com cabelos e barba grisalhos.
Saeed contou ao vice-primeiro-ministro do Iraque, Barham Salih, durante visita rápida à área do ataque, que 51 membros de sua família foram mortos. Cerca de cem yazidis revoltados reuniram-se para protestar, enquanto Salih conversava com autoridades locais.
“Isso aqui ficou parecendo um local de testes nucleares, um local onde explodiu uma bomba nuclear”, disse à Reuters Salih, que é curdo.
As Forças Armadas dos EUA afirmaram que a Al Qaeda era o principal suspeito pelos atentados, que talvez tenham sido os piores do tipo desde que os norte-americanos comandaram a invasão do Iraque em 2003.
Os militares avisaram que um ataque de tais proporções poderia ocorrer antes de ser entregue ao Congresso dos EUA, na metade de setembro, um relatório do governo norte-americano sobre a situação da guerra no território iraquiano.
“A Al Qaeda quer matar todos os yazidis”, afirmou um outro morador de Kahtaniya, que disse chamar-se Hossein. “Se explodirem outras bombas como essas, não haverá mais yazidis para contar a história.”
Os yazidis pertencem a um grupo curdo pré-islâmico que reúne várias centenas de milhares de pessoas no norte do Iraque e na Síria, pessoas essas que se dizem perseguidas devido a suas crenças.
Em abril, homens armados mataram 23 operários yazidis em Mosul, em uma aparente retaliação pelo apedrejamento, semanas antes, de uma adolescente yazidi que, segundo a polícia, havia se apaixonado por um árabe sunita e se convertido ao islamismo.
Na quinta-feira, pouco depois dos atentados, yazidis exaltados pediam por ajuda. “Estamos morrendo de sede. Há dias que não recebemos água”, afirmou Naif Kudar Ismael, morador de Kahtaniya.
Os atentados foram os mais violentos ataques coordenados ocorridos no Iraque desde novembro de 2006, quando seis carros-bomba detonados em diferentes áreas do bairro xiita de Sadr City, de Bagdá, mataram 200 pessoas e feriram 250. Aquele foi o maior ataque do tipo ocorrido até então desde a invasão liderada pelos EUA.
Na manhã de quinta-feira, as forças norte-americanas lançaram um ataque aéreo contra um complexo do sul de Bagdá, realizando a primeira grande ofensiva de uma operação anunciada esta semana e que tem por alvo militantes sunitas e xiitas.
Em Bagdá, também na quinta, um carro-bomba parado em um estacionamento matou nove pessoas e deixou outras 17 feridas.
Fonte: Reuters