Heterossexuais são minoria nos cultos celebrados todos os domingos na Comunidade Cristã Metropolitana (ICM), na Liberdade, região central de São Paulo, mas ninguém é discriminado. A igreja, que contempla a diversidade sexual, já promoveu até um casamento coletivo de casais de gays e lésbicas.
O pastor Cristiano Valério diz que entre os fiéis há oito “ex-ex-gays”. Segundo ele, “ex-ex-gays” são pessoas que chegaram a dar testemunho no púlpito de igrejas tradicionais dizendo que tinham deixado de ser homossexuais, mas voltaram a se relacionar com pessoas do mesmo sexo.
Valério critica comunidades tradicionais, onde, de acordo com ele, grupos de terapia se propõem a transformar o homossexual em heterossexual. Para ele, a idéia não funciona. “A homossexualidade não é doença e não pode ser curada”, afirma.
Psicólogo e teólogo, Valério, de 31 anos, afirma que ele mesmo é um dos “ex-ex-gays”. Egresso de uma igreja evangélica, ele rejeitou sua condição sexual até conhecer, em um site, a “teologia inclusiva” que fundamenta a ICM, criada em 1968 nos Estados Unidos. A ICM diz ter estar presente hoje em 22 países.
“Os ‘ex-ex-gays’ são pessoas que abraçaram sua sexualidade como dom de Deus e hoje são membros da ICM. Nas suas denominações (religiões) anteriores, alguns chegaram a dar testemunho no púlpito, vender DVDs contando que deixaram de ser gays, mas que agora abraçaram sua sexualidade”, diz o pastor.
Fundada em São Paulo há dois anos e meio, a ICM começou com reuniões entre cinco pessoas debaixo de uma árvore no Parque do Ibirapuera, na Zona Sul da capital, e atualmente reúne 48 fiéis, conta o pastor. “É uma igreja nova, mas está crescendo”, disse.
A entidade estimula trabalhos comunitários. Também participa ativamente dos movimentos em favor da igualdade de direitos para as minorias sexuais. A maioria dos freqüentadores da ICM é formada por profissionais liberais de nível técnico e universitário, com idade pouco acima dos 30 anos.
No último casamento coletivo, realizado em maio, dois casais de lésbicas e um de gays celebraram a união. “Ao contrário do casamento convencional, só concordamos com a união se as pessoas vivem já há algum tempo juntas”, diz o pastor.
Missa tradicional
Valério explica que os cultos lembram uma missa convencional. “Há um momento de louvor, leitura da Bíblia, pregação da palavra e o momento da ceia. Convidamos todos à eucaristia, formada de pão sem fermento e vinho. Nós fazemos as mesmas orações e partimos o cálice do mesmo jeito – a diferença é que nós abrimos a ceia para todos e todas.”
Valério afirma que a ICM faz uma leitura contextualizada e aberta da Bíblia. Na ICM não há confissão, “porque todos são orientados a agir livres de dogmas”, e nem pecado, “a não ser o da homofobia e o do desrespeito ao próximo”, segundo o pastor.
Valério vê em trechos da Bíblia menções aos homossexuais. “Como o texto bíblico é machista, é difícil tirar outros personagens do armário”, afirma ele.
Fonte: G1