O cardeal mexicano Javier Barragán, ministro de Saúde do Vaticano, elogiou ontem o trabalho de cientistas que conseguiram obter células-tronco de potencial terapêutico a partir do líquido amniótico de placentas sem destruir embriões.

“É um descobrimento que nos suscita alegria e satisfação”, disse o líder eclesiástico ao jornal italiano “La Stampa”. “Parabenizo os pesquisadores porque se trata de um passo adiante. É um verdadeiro progresso porque não danifica órgãos e não discrimina a vida.”

O estudo elogiado por Barragán e conduzido pelas universidades americanas Harvard e Wake Forest mostrou que as células-tronco do líquido amniótico podem ser diferenciadas para compor diversos tipos de tecidos, como osso, músculo, vasos sangüíneos e nervos.

Apesar do entusiasmo religioso com a nova pesquisa, outros cientistas dizem que ainda é cedo para decretar o fim da necessidade do uso de células de embrião em pesquisas.

“Antes disso [extração de células-tronco amnióticas] virar rotina nos laboratórios, o resultado deve ser confirmado por outros grupos de forma independente”, disse à Folha Alysson Muotri, biólogo do Instituto Salk (EUA). “Elas podem se tornar uma alternativa ética, mas seria preciso descobrir primeiro de onde são originadas –das próprias células-tronco embrionárias?– e qual a sua real capacidade.”

Para Stevens Rehen, neurocientista da UFRJ, o trabalho do grupo de Harvard e Wake Forest terá mais impacto no campo da moral do que no científico. “Não vejo nenhum motivo que não seja ético, neste momento, para fazer isso”, diz. Tanto Muotri quanto Rehen afirmam que a diversidade de alternativas para obter células-tronco é boa para a ciência, mas não que células embrionárias não sejam necessárias.

“É trabalhoso convencer e educar a opinião pública, mas esse é um papel do cientista também”, diz Rehen. “Não dá para ficar buscando sempre subterfúgios ou formas que sejam da ética de um período histórico.”

Fonte: Folha Online

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