A Igreja Católica da Polônia vai investigar se algum de seus membros mais importantes colaborou com a polícia secreta da era soviética. A decisão foi tomada em um encontro de emergência entre os 45 bispos do país de João Paulo 2º, depois da polêmica renúncia do futuro arcebispo de Varsóvia, no domingo.

O bispo Stanislaw Wielgus abdicou da arquidiocese da capital polonesa após confessar ter colaborado com a polícia do regime comunista.

Uma comissão devera investigar o passado de todos os bispos e “pessoas da igreja”, anunciou o colégio de bispos.

“Os bispos confirmam que realizarão uma completa verificação da verdade sobre nós mesmos”, disse o arcebispo Jozef Michalik, chefe do conselho.

Correspondentes dizem que as notícias sobre as relações entre a Igreja e a polícia política foram um baque para a instituição religiosa na Polônia, onde 90% dos 40 milhões de habitantes são católicos apostólicos romanos.

Acuado por revelações da imprensa, o bispo Wielgus renunciou no dia da cerimônia que o transformaria no novo arcebispo da capital polonesa.

O cônego da catedral de Cracóvia, no sul da Polônia, Janusz Bielanski, abdicou no dia seguinte, pela mesma razão.

Choque

O correspondente da BBC em Varsóvia, Adam Easton, disse que o escândalo foi chocante em um país que reserva forte papel à Igreja Católica.

Foi um papa polonês, João Paulo 2º, que liderou a Igreja na luta contra o comunismo em todo o mundo, durante a Guerra Fria.

No entanto, historiadores acreditam que um em cada seis membros da Igreja polonesa passou ao regime comunista informações sobre seus colegas durante a era soviética.

Recentemente, a instituição iniciou diversas investigações para identificar os colaboradores da época.

O arcebispo de Cracóvia, Stanislaw Dziwisz, que chefia as investigações em sua arquidiocese, classificou a era comunista como “um tempo de perseguição da Igreja, normalmente de maneira sangrenta e brutal”.

Bispos poloneses se reúnem após crise da renúncia do monsenhor Wielgus

Os bispos da Polônia se reuniram nesta sexta-feira para fazer frente à crise provocada pela demissão do efêmero arcebispo de Varsóvia Stanislaw Wielgus, por ter colaborado com a antiga polícia secreta comunista.

“Há um único tema na reunião. É a situação em que está a Igreja”, após a saída de Wielgus no domingo, dia em que deveria assumir seu cargo, disse à imprensa o porta-voz do Episcopado, Jozef Kloch.

“É preciso encontrar soluções globais para resolver o problema”, acrescentou.

A Igreja polonesa, que durante muito tempo se mostrou reticente a revelar seu passado mais obscuro, tem agora de tomar medidas, já que maior parte da opinião pública segue profundamente surpreendida com o fato de que um antigo delator da polícia secreta comunista tenha alcançado um dos postos mais altos da hierarquia eclesiástica.

“A Igreja não é feita para se ocupar de documentos dos serviços secretos, mas desta vez o fará”, advertiu o padre Kloch, acrescentando que uma comissão histórica especial do episcopado já pediu acesso a diversos expedientes dos antigos serviços secretos comunistas poloneses, a SB.

Foi esta comissão que determinou que Wielgus colaborou com a SB entre 1967 e 1987.

A reunião do Conselho Permanente do Episcopado, ampliado aos bispos titulares das dioceses polonesas, foi realizada a portas fechadas. Seu caráter é excepcional, pois esta instância só se reúne de forma ordinária duas vezes ao ano: 2 de maio e 25 de agosto.

O padre Kloch anunciou que haverá em breve a divulgação de uma mensagem aos fiéis sobre os últimos acontecimentos, que provocaram uma crise sem precedentes na história da Igreja polonesa desde a queda do comunismo em 1989.

Desde o retorno da democracia a este país amplamente católico, a Igreja polonesa se beneficiava de um imenso prestígio, obtido com sua oposição à ditadura e com o carisma do polonês João Paulo II, papa entre 1978 e 2005.

Fonte: BBC Brasil e AFP

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