São 22 mil sacerdotes para 48 mil locais de atendimento, diz a igreja. Ausência é maior em áreas do Nordeste e do Norte; hierarquia rígida e natalidade menor são apontadas como fatores.
A Igreja Católica tem menos da metade dos padres de que precisaria para haver um sacerdote em cada local de celebração de missa no país, como paróquias e capelas.
No Brasil, segundo a última contagem feita pela própria igreja, em 2010, há 22 mil padres para quase 48 mil centros de atendimento religioso -locais em que as missas são celebradas, não necessariamente uma igreja.
O deficit de padres é mais acentuado em algumas regiões, especialmente em áreas do Norte e do Nordeste.
Essa defasagem é apontada por estudiosos e membros da Igreja Católica como uma das razões para a perda de espaço da religião para diversas correntes evangélicas no Brasil nas últimas décadas.
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CENSO[/b]
Segundo o Censo-2010, o catolicismo é a religião de 64,6% dos brasileiros, já foi de 90% nos anos 70 e teve, pela primeira vez, queda em número absoluto de fiéis -perdeu 1,7 milhão de adeptos na década passada.
Apesar do recuo no período, os anos 2000 marcam um relativo avanço no número de padres, de 32%, e sobretudo no de diáconos, de 146%.
O diácono é um tipo de líder comunitário formado pela igreja que pode representá-la e comandar encontros.
“Houve um aumento, mas, mesmo contando os seminaristas em formação [cerca de 9.000] e os diáconos, o deficit é enorme, de mais de 20 mil”, diz o filósofo Fernando Altemeyer, pesquisador de ciências da religião na PUC-SP.
“Há muitos no Sul e Sudeste e uma falta gigante na região amazônica. Sem padre, não tem missa e não tem a igreja, que é feita em torno do altar”, acrescenta ele.
Enquanto o Norte tem 3% do total dos sacerdotes e 7% da população do país, o Sudeste e o Sul reúnem, respectivamente, 45% e 25% -e abrigam 42% e 14% da população, nessa ordem.
“A questão das vocações sempre foi um desafio para a igreja”, diz o padre Valdeir dos Santos Goulart, responsável pelo Ceris, centro católico de estatísticas no Brasil.
“Tempos atrás, as famílias tinham muitos filhos, e era mais fácil que um deles fizesse a opção religiosa. À medida que cai o número de filhos, isso vai prejudicando o aparecimento de vocações”, diz.
O celibato obrigatório e a rigidez hierárquica impostos pelo Vaticano também são apontados como explicações para o deficit de padres -entraves à renovação do clero pedida pelo papa Bento 16 dias após o anúncio da renúncia ao pontificado.
“Uma alternativa seria a ordenação de mulheres”, sugere o filósofo Mario Sergio Cortella, professor da PUC-SP. “Um novo papa que tivesse essa perspectiva encontraria no nosso país e em outros recepção muito positiva”, diz.
O Brasil tem 33 mil freiras -7% a menos do que em 2000. Uma das razões apontadas para o recuo é a relação hierárquica de subordinação da mulher na igreja.
“O trabalho feminino na igreja nascia de acordo com o desafio, para cuidar de hospitais e creches, função que hoje está com o Estado”, diz padre Valdeir, ponderando que a ordenação de mulheres não é cogitada pelo Vaticano.
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DIOCESES[/b]
O caminho mais realista parece ser uma maior abertura para os diáconos. “Algumas dioceses não aceitam diáconos porque há resistência de padres, que os veem como competidores”, diz o padre José Carlos Pereira. “Talvez o próximo papa possa orientar os bispos a aceitá-los.”
[b]Fonte: Folha.com[/b]