Uma “revelação divina de cura” para a aids e para o câncer recebida durante cerimônia religiosa pode ter levado Gilson de Oliveira Silva, 44 anos, que morreu no último fim de semana, a abandonar o tratamento médico e parar de tomar os medicamentos indicados para as doenças de que sofria.

Após o enterro, realizado no domingo, em Salvador, familiares disseram que irão procurar a Justiça para apurar a responsabilidade da igreja na morte.

Gilson foi diagnosticado como portador do vírus HIV, sofria de um tipo de câncer na face e estava cadastrado para receber remédios e ser acompanhado pelo Hospital das Clínicas (HC), na capital baiana.

Apesar dos exames e das orientações médicas, parentes afirmam que Gilson teria sido declarado curado das doenças em um culto religioso da Igreja Ministério do Fogo, localizada em Salvador. Por isso, o fiel teria abandonado os tratamentos médicos.

Segundo o médico epidemiologista Eduardo Martins, responsável pelo tratamento de soropositivos do HC, muitos pacientes decidem não fazer ou não continuar o tratamento da aids, mas a religião não está entre os principais motivos.

“Hoje (ontem) eu já atendi 12 pacientes. Era claro que dois deles não estavam tomando os medicamentos. A gente orienta e, cada vez que eles voltam, fazemos exames para ver isso. Mas o paciente é livre para decidir se quer ou não tratamento”, explicou.

O médico também destacou que alguns pacientes buscam tratamentos alternativos para suas doenças, mas ressaltou que a ciência ainda não descobriu a cura da aids.

Para o coordenador estadual do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (Gapa), Harley Henriques, a contribuição dos diversos setores da sociedade, inclusive do religioso, é importante para garantir a qualidade de vida do portador do vírus HIV. Mas é importante que as igrejas respeitem o saber científico que, segundo ele, é o que possibilita a melhora na sobrevida dos pacientes.

“Esses casos devem servir de alerta para evitar esse comportamento. A igreja, seja ela qual for, não pode interferir no saber médico e colocar vidas em risco”, frisou.

Segundo declarações dos parentes de Gilson à imprensa local, ele frequentou a Igreja Ministério do Fogo, no bairro do Imbuí, em Salvador, por um ano, e suspendeu por um semestre seu tratamento.

Fonte: JC online

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