Mãos estendidas sobre os destroços como se fosse um pedido de intervenção divina. O simples gesto manifestado pelo pastor Carlos Barbosa, responsável pelo Tabernáculo da Assembleia de Deus, cujo piso da fachada e o telhado desabaram na noite de anteontem, pode representar o sentimento que o assola diante dos desdobramentos decorrentes do incidente.
Concreto mergulhado sob uma vala e pedaços de telhas dispersos. À luz do sol, menos de 24 horas depois do desabamento, era possível dimensionar nitidamente o prejuízo às margens da pista da avenida Bernado Sayão, entre a travessa Padre Eutíquio e a avenida José Bonifácio, bairro do Guamá. Mas, o novo dia trouxe à tona outras novidades. O templo não possuía licença da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), tampouco do Corpo de Bombeiros.
No início da manhã de ontem, fiscais da Seurb visitaram as instalações e notificaram o pastor com um auto de infração, uma vez que a obra de edificação do templo não dispunha de licenciamento para construção, que deveria ser emitido pelo órgão municipal. Por conta disso, uma multa será aplicada ao responsável pelo templo.
Além disso, depois do comparecimento do tenente Arlenson, engenheiro do Centro de Avaliação Técnica do Corpo de Bombeiros (CAT), mais uma revelação: a obra também não possuía licenciamento para funcionamento, o que compete ao Corpo de Bombeiros conceder essa permissão, baseada em uma perícia de incêndio e pânico. “Construções acima de 50m² necessitam de licença de funcionamento emitida pelo Corpo de Bombeiros”, esclareceu o tenente.
Segundo moradores da avenida Bernardo Sayão, a construção existe há 10 anos. No início, funcionava um bar. Há aproximadamente três anos foi alugada para a igreja Assembleia de Deus, sendo que em meados de junho do ano passado foi adquirida definitivamente, de modo que, paulatinamente, estava sendo submetida a obras. Na parte interna, paredes já haviam sido levantadas.
O tenente Arlenson informou que uma perícia técnica será realizada no local, de maneira que dentro de 15 dias um parecer deve ser divulgado, apontando as causas do desabamento. Numa avaliação preliminar, o engenheiro acredita que a estrutura de concreto cedeu, em função do terreno alagado que se estende nas margens da avenida Bernardo Sayão.
O DIÁRIO entrou em contato com o engenheiro João Carlos, que, conforme estampado em banner na parte interna do templo, é o responsável pela construção. “A minha responsabilidade é sobre a obra que fica a três metros da área que desabou. O que caiu foi a ponte que dá acesso à igreja”, frisou. Em relação ao fato da obra não possuir licença para construção emitida pela Seurb, o engenheiro alegou que já havia providenciado a solicitação de licença, mas ainda não teria sido concedida.
Fonte: Diário do Pará