Determinada a “buscar as pessoas onde elas moram, trabalham e se divertem”, a Igreja católica começou a se instalar nos novos bairros comerciais e residenciais da região de Île-de-France.

“É a nossa própria Grande Pari(s)” [referência à iniciativa por propostas de intervenções para a Paris do século 21], sorri Bruno Keller, secretário-geral do Canteiro de Obras do Cardeal, a estrutura que financia parte das construções de igrejas em Paris e na região metropolitana parisiense. “São lugares que não podem ficar vazios”, ele diz.

Tudo passou pelo crivo: o número de moradias previstas para os próximos anos, a área, em metros quadrados, de escritórios construídos e projetados, o número de pessoas – residentes ou a trabalho – potencialmente envolvidas pelo polo de atividades, a chegada prevista de um centro de conferências… Até os “17 milhões de visitantes anuais do parque Eurodisney” e os “20 milhões do centro comercial de Val d’Europe” (Seine-et-Marne) foram levados em conta.

O anúncio, na terça-feira (29), de “oito projetos arquitetônicos de envergadura nas oito dioceses da região de Île-de-France para os oito próximos anos” coincide com os 80 anos do Canteiro de Obras do Cardeal, lançado em 1931 pelo cardeal Verdier. Com Paris e sua periferia vivendo uma forte transformação demográfica, o arcebispo de Paris ambicionou “construir igrejas para evangelizar Paris e sua periferia e para propiciar trabalho a operários desempregados”.

Hoje, assumiu-se o “golpe de marketing” desses diversos anúncios; a meta é a “visibilidade” da Igreja católica nas novas áreas povoadas. E, consequentemente, a sua capacidade de voltar a levantar fundos.

“Cada vez que vemos ser criado um novo polo de atividades, examinamos nossa forma de presença no local. Acompanhamos o desenvolvimento urbano; é importante que a Igreja esteja mais perto do povo”, afirma Dom Delannoy, bispo de Saint-Denis, representante do Canteiro de Obras do Cardeal. Rejeitando a ideia de um crescente desinteresse pela Igreja de grande parte da população, ele destaca que, pelo contrário, há uma “forte expectativa espiritual” na região parisiense. A implantação de igrejas nessas novas zonas pretende então “atender aos novos desafios da evangelização”, antes mesmo que a demanda surja de potenciais comunidades de fiéis.

O lançamento dessas obras – que no final poderão custar mais de 25 milhões de euros – , associado à aproximação entre duas estruturas até então distintas (obras interdiocesanas e Obras do Cardeal) também visa mobilizar os fiéis. “Apresentar projetos ambiciosos, oferecer aos fiéis lugares novos ou renovados onde eles se sintam bem, para incentivá-los a doarem mais”, reconhece Keller.

[b]Presença assumida
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E isso é urgente, já que entre 2000 e 2010 o Canteiro de Obras do Cardeal perdeu metade de seus 20 mil doadores. A tendência se reverteu em 2011, garante Keller; a estrutura dispõe hoje de um orçamento de 2,5 milhões de euros, mas a Igreja está se movendo em “um mundo de recursos raros”, ele diz. “Em razão da falta de recursos das comunas e das dioceses, 13 igrejas e 8 capelas foram colocadas à venda e 200 igrejas estão ameaçadas em nível nacional”, faz questão de explicar a instituição, em seu dossiê de apresentação das grandes obras.

A mutualização das doações também deve reduzir os desequilíbrios entre as dioceses “históricas”, mais ricas, e as dioceses recentes, que não podem contar com os financiamentos públicos destinados aos locais de culto construídos antes de 1905. Assim, das 110 igrejas parisienses, 82 são de responsabilidade do governo. Uma proporção inversa em Seine-Saint-Denis, onde somente 42 das 116 igrejas recebem verba pública para manutenção e reforma, ou em Val-de-Marne, que possui 48 locais de culto municipais entre as 136 igrejas recenseadas.

As novas realidades demográficas e sociológicas também vêm acompanhadas de uma adaptação da Igreja ao ritmo de vida e às necessidades dos fiéis em potencial. “Se nos dirigirmos às pessoas que trabalham, é preciso oferecer sermões de 45 minutos, uma hora, e não mais na hora do almoço”, ressalta Dom Delannoy. “Seja para uma prece, uma missa ou um curso”. Ele também menciona “os cafés-da-manhã após a missa matutina”, como aqueles oferecidos na igreja de Notre-Dame de Pentecôte, instalada há dez anos no bairro empresarial de La Défense.

Até a exposição das novas construções está mudando. A arquitetura das igrejas voltou a ter uma presença visível e assumida, rompendo com certas construções dos anos 1960 e 1970 enfurnadas no cenário urbano. E, de agora em diante, constroem-se menos “igrejas” do que “casas de igreja”, “casas de famílias” ou “centros eclesiásticos”. Uma tentativa de atrair um público que vá além do simples frequentador das missas de domingo.

[b]Fonte: Le Monde[/b]

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