“É uma guerra de Deus!” Foi com essas palavras que o primaz da Argentina, cardeal Jorge Bergoglio, convocou os católicos a se mobilizarem contra o projeto de lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país.
A proposta – aprovada na Câmara de Deputados em maio, com 126 votos a favor e 110 contra (além de 4 abstenções e 16 ausências) – será votada amanhã no Senado.
O resultado da votação promete ser apertado. Diversos senadores – pressionados de um lado pela Igreja Católica e do outro pelo governo da presidente Cristina Kirchner, que defende o projeto do lei em tramitação – permanecem indecisos.
O cardeal Bergoglio afirmou que o projeto de casamento entre pessoas do mesmo sexo se trata de um “movimento do diabo” que pretende “destruir o plano de Deus”.
Bergoglio, um papável que ficou em segundo lugar na votação do conclave que elegeu o papa Bento XVI, convocou a população argentina a “acompanhar essa guerra de Deus”.
Já monsenhor Eduardo Martín, bispo da cidade de Río Cuarto, um dos principais polos agrícolas do país, na província de Córdoba, declarou que o “casamento gay” coloca “em perigo o futuro da pátria”.
Se o projeto for aprovado no Senado, a Argentina será o primeiro país da América Latina e o décimo no mundo a contar com uma lei de casamento homossexual em todo seu território.
O Uruguai conta com uma lei de união civil que não engloba todos os direitos do casamento entre heterossexuais. O único país no continente que autoriza o casamento homossexual em todo o território é o Canadá.
Nas ruas. Hoje à noite, paróquias, escolas religiosas, organizações católicas e demais instituições vinculadas à Igreja prometem levar milhares de pessoas ao Congresso Nacional para exigir que os senadores votem contra a lei.
Nas últimas três semanas, a Igreja mobilizou jovens para distribuir folhetos nas ruas contra o casamento gay e pressionou pais de crianças que estudam em escolas católicas a assinar um manifesto contra o projeto de lei.
Ao longo do último mês, famosos atores e cantores heterossexuais fizeram uma campanha em defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Intelectuais e ONGs organizam amanhã, em frente ao Parlamento, uma vigília durante os debates dos senadores. É a discussão mais intensa na sociedade argentina desde a votação da lei do divórcio, em 1987.
Inquisição. A presidente Cristina criticou ontem as declarações da Igreja Católica contra a votação do projeto de lei e ressaltou que o discurso da cúpula “parece da época das Cruzadas”. Em visita à China, a presidente expressou preocupação pelas expressões que falam em “projeto do diabo”.
Fonte: Estadão