Está ganhando força no seio da Igreja Ortodoxa Russa a proposta de criação de um partido político religioso controlado pela instituição.
Um dos maiores defensores da ideia, como informa a Rádio Voz da Rússia, de Moscou, é o arcipreste Vsevolod Tchaplin, responsável pelo Departamento Sinodal de Relacionamento entre Igreja e Sociedade.
Vsevolod Tchaplin está convencido de que a sua proposta de criação na Rússia de um partido político religioso é a melhor resposta que a Igreja Ortodoxa pode dar às manifestações de protesto que vêm acontecendo no país desde que foram realizadas as eleições para a Duma, em 4 de dezembro de 2011.
O arcipreste também sustenta que a criação de um partido religioso na Rússia apenas seguiria uma tendência mundial, existente em Israel, nos países árabes e em vários países da Europa, da Ásia e das Américas. Portanto, a seu ver, não seria uma atitude despropositada nem inédita.
A proposta do líder religioso suscitou um debate acalorado na Rússia. Em defesa da sua tese, o arcipreste Vsevolod Tchaplin afirma que a Rússia moderna já tem a experiência de criação de partidos religiosos. “Nos anos 1990, houve muitas tentativas de criar partidos ortodoxos ou cristãos. Mas, naquela época, no interior daquelas organizações surgiram dois problemas graves, a ambição pelo poder e as rivalidades que se transformaram em hostilidade. As pessoas podem-se unir na base de quaisquer valores, sejam eles religiosos ou não. A legislação russa não admite a criação de partidos com base em princípios religiosos. Mas emendas podem ser propostas à legislação e existe a possibilidade também de que pessoas, que comungam de valores comuns, consigam se unir sob uma denominação neutra. Por exemplo, no Parlamento Europeu existe um grupo cristão que se denomina Partido Popular Europeu. “
Os representantes do judaísmo russo e algumas personalidades russas também apoiam a criação do partido religioso na Rússia. O publicitário Andrei Desnitski é um destes entusiastas. ”Faz falta à Rússia um partido religioso. Uma organização política, com a força transmitida pela religião, pode se tornar cada vez mais importante na vida institucional do país. No meu entendimento, a Rússia pode, perfeitamente, abrigar um partido religioso.”
No entanto, a maioria dos políticos russos está convencida de que o partido religioso não teria futuro. Um exemplo é o politicólogo e especialista em assuntos religiosos Ivar Maksutos, que chegou a ridicularizar a proposta do arcipreste Vsevolod Tchaplin. Na sua opinião, o maior problema de surgimento de um partido ortodoxo é a ausência no cenário político russo de ideais religiosos. “Vamos considerar o caso da Ucrânia onde a demanda de ideias religiosas é muito maior do que na Rússia. Isso se deve, em primeiro lugar, à existência de um grande número de organizações religiosas que competem entre si. Neste caso, o surgimento da religião na vida política é plenamente justificado. Na Ucrânia, os “comícios laranja”, de matiz político, contavam com a presença de lideres de várias organizações religiosas, incluindo ortodoxas, enquanto que nenhum representante das organizações religiosas da Rússia participou das manifestações de protesto, que vêm acontecendo em Moscou desde dezembro de 2011. Mais do que isso: a Igreja Ortodoxa Russa absteve-se neste período de quaisquer comentários.”
Mesmo se um partido ortodoxo surgir no palco político da Rússia, ele jamais poderá vir a ser o “porta-voz” da Igreja Ortodoxa, pois de acordo com a Constituição da Federação Russa, a Igreja está separada do estado e da política. Além disso, os cânones da Igreja Ortodoxa Russa proíbem aos sacerdotes candidatar-se para participar de órgãos representativos do poder, ser membros de partidos políticos e participar de movimentações políticas. A única exceção admitida é a de quando o engajamento em atividades políticas for essencial para manter a Igreja Ortodoxa Russa unida contra qualquer possibilidade de cisão.
[b]Fonte: Diário da Rússia[/b]