A Igreja Ortodoxa Russa (IOR) resistem em seguir o exemplo da Igreja Católica na hora de elaborar sua própria lista de pecados capitais que incluam vícios da globalização, como engenharia genética, clonagem e o dano ao meio ambiente.
“A ortodoxia parte de uma noção espiritual do pecado, de um enfoque teológico-pastoral que não requer uma rígida sistematização e regulamentação”, assegura o chefe do departamento de relações cristãs do Patriarcado de Moscou, Ígor Vizhánov.
A IOR se desvincula assim das declarações do bispo Gianfranco Girotti, membro da Penitenciaria, que em uma entrevista ao diário Vaticano, L’Osservatore Romano, falou sobre o conceito de pecado no mundo globalizado.
Segundo o bispo, a manipulação genética, a degradação do meio ambiente, a acumulação excessiva de riqueza e o consumo de drogas são práticas que contrariam os dez mandamentos bíblicos e, portanto, são pecaminosas.
Curiosamente, a IOR sempre foi ultraconservadora em matéria de moral e essa é precisamente uma das razões do recente aproximação entre ortodoxos e católicos, cujas relações alcançaram seu ponto mais baixo durante o pontificado de João Paulo II.
O Patriarca russo, Alejo II, elogiou desde o início o novo papa romano, Bento XVI, intransigente no que se refere a práticas como a contracepção e a clonagem e declarou, inclusive, que o “inferno existe”.
No entanto, Vizhánov se pergunta: “É necessária uma lista uma lista como essa? Na prática espiritual da ortodoxia cada vício tem seu nome e lugar, mas quando falamos de pecado, nos referimos à alma de uma pessoa concreta”, segundo a agência Interfax.
Em sua opinião, “dificilmente se pode capturar em uma lista as diferentes matizes e estados transitórios da pessoa” que comete uma falta.
A IOR, que foi acusada de conivência com as políticas do Kremlin, duvida da catalogação como “pecado” de perversões e fraquezas sociais e políticas.
Segundo a IOR, pecado é “quando uma pessoa atua contra a vontade de Deus, infringindo seus mandamentos”.
Paradoxalmente, a Igreja Ortodoxa elaborou em 2004 um código de dez mandamentos para os empresários que deviam servir de “normas morais” para sua gestão administrativa.
Os preceitos incluídos na “Bíblia popular do empresariado” tipificavam fenômenos como a riqueza e a pobreza, a evasão fiscal, a nacionalização, a publicidade e os lucros.
“O culto da riqueza é incompatível com a moralidade, porque destrói a cultura jurídica e econômica, e cria injustiça no partilhar os frutos do trabalho e dos direitos sociais”, diz a bíblia do empresariado.
Diferentemente de outras denominações religiosas, a ortodoxa não se caracteriza pela austeridade, o que há atraído críticas pela suntuosidade das vestimentas e a rica decoração dos templos.
Fonte: Estadão