A riqueza em si não é um pecado, como também a pobreza não é uma virtude: os excessos de uma e de outra podem levar à condenação. Essa foi a tese defendida pelo patriarca ortodoxo, Aleksej II, de Moscou e de todas as Rússias, diante do Concílio pan-russo popular, que reuniu 1.700 representantes de organizações pararreligiosas de todo o país.
A respeito dessa tese, todavia, há dissidências no seio da Igreja Ortodoxa, e também no que se refere às relações entre o Patriarcado e o poder. Da distante região da Ciukotka, extremo nordeste do país, sopram ventos cismáticos, por parte do bispo Diomedes.
Esse concílio está-se dedicando à luta contra a pobreza: “São necessárias medidas urgentes _ disse o Metropolita Kirill, responsável pelas relações externas, do Patriarcado de Moscou – ou nos encontraremos como em 1917, à beira da catástrofe.” O apelo é dirigido aos “oligarcas” _ a classe dos “novos ricos” russos _ para que “não esperem as rebeliões nas praças, mas comecem a dividir com o povo, seus bens”.
A riqueza não é um pecado, mas “suscita indignação _ disse o Metropolita Kirill _ o modo irracional com que os ricos russos jogam o dinheiro pela janela. É uma vergonha diante do mundo, vê-los esbanjar abertamente, somas enormes em divertimentos duvidosos, enquanto no país, o povo deve sobreviver com salários miseráveis. E aquela gente tem depois, a arrogância de usar a televisão para justificar-se diante do povo”.
O patriarca Aleksej II, por sua vez, adverte, porém, que a miséria não é uma virtude automática, ao contrário “pode ser um pecado. Pode tornar o homem mau, levá-lo ao desespero e jogá-lo no caminho do crime”.
O tímido debate contra o esbanjamento não afasta as polêmicas vindas do leste: numa carta aberta publicada na Internet, o bispo Diomedes estigmatizou as relações subalternas das hierarquias eclesiásticas a respeito do Kremlin e o poder laico, também econômico. “Vocês abandonaram a ortodoxia e os postulados fundamentais da religião” _ lê-se em sua missiva.
O bispo rebelde quis atingir tanto os reformadores, pelo conteúdo social de seu protesto, quanto as alas mais conservadoras da Igreja, lançando anátemas contra “o excessivo ecumenismo”. Depois, sublinha que os líderes religiosos “se distanciaram do povo, desprezaram o confronto com as pessoas, não querendo convocar o concílio geral da Igreja Ortodoxa russa”. E lança, pela Internet, um abaixo-assinado para coletar assinaturas contra a hierarquia de Moscou.
Fonte: Rádio Vaticano