O presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), Roberto Brasileiro Silva, afirmou que os pastores e membros da instituição têm liberdade para se posicionarem politicamente, apesar do relatório interno que recomenda orientar fiéis a se afastar da esquerda.
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo publicou, a igreja abriu o púlpito para a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio à discussão da proposta.
“A igreja não apoia este ou aquele candidato e não destoa deste ou daquele candidato. Nós damos liberdade aos nossos pastores e aos nossos membros nos seus posicionamentos políticos”, disse o reverendo à reportagem. Ele evitou comentar o conteúdo do relatório, que fala em afastar os crentes do “comunismo” e da “nefasta influência do pensamento de esquerda”.
A proposta será discutida no Supremo Concílio da IPB, órgão máximo de decisão da igreja, entre os dias 24 e 31 de julho, em Cuiabá, e depende de aprovação para se tornar oficial.
O relator da proposta é o reverendo Osni Ferreira, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina (PR). No último dia 3, ele usou o púlpito da igreja para defender a reeleição de Bolsonaro.
O presidente da IPB tentou afastar as declarações do posicionamento oficial da igreja. “Cada pastor é responsável por aquilo que ele fala, por aquilo que ele pronuncia, e responde ao seu conselho e também ao presbitério. Quando a igreja faz um posicionamento oficial é através da minha pessoa, e nós não fizemos nenhum pronunciamento”, afirmou Roberto Brasileiro Silva.
Nos bastidores, a proposta que será debatida no Supremo Concílio é apontada como uma pressão contra fiéis críticos de Bolsonaro e eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não seriam mais bem-vindos no reduto presbiteriano.
A cúpula presbiteriana é alinhada ao atual governo. O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso no âmbito de uma investigação sobre o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação, caso revelado pelo Estadão, é um dos líderes da igreja. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, indicado por Bolsonaro, também é da mesma instituição.
O presidente da IPB esteve ao lado de Bolsonaro quando aliados do governo comemoraram a aprovação da indicação de André Mendonça ao STF, em dezembro do ano passado. Na ocasião, Roberto Brasileiro elogiou o presidente. Ele tem um filho, o advogado Gustavo Brasileiro, que foi assessor especial do Ministério da Educação na gestão de Milton Ribeiro e é pré-candidato a deputado estadual pelo Partido Novo em Minas Gerais.
“Eu fui próximo de todos os últimos presidentes, estive com todos eles. A obrigação da igreja é visitar, orar e interceder. Você não vai encontrar em lugar nenhum qualquer posicionamento meu, qualquer participação minha em nenhum evento político”, disse o reverendo.
Perseguição
Nas redes sociais, a igreja foi acusada de perseguição. O pastor Antônio Carlos Costa, presidente da ONG Rio da Paz e ex-líder da IPB no Rio, afirmou que a instituição está decidindo “o que fazer” com os membros de esquerda.
“A Igreja Presbiteriana do Brasil está decidindo o que fazer com os seus membros de esquerda. Indago: sobre qual esquerda ela está falando? Quanto do marxismo uma pessoa precisa crer para ser considerada marxista? Os pressupostos intelectuais neoliberais são cristãos? O que ela tenciona fazer com o pastor da IPB que do púlpito propõe um golpe militar no Brasil? O apoio a Bolsonaro é a pura expressão do pensamento reformado? Bolsonaro é profeta? Quantos pastores de esquerda foram ouvidos pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil?”, disse Antônio Carlos Costa.
“Militância eleitoral na igreja”
Reinaldo Azevedo, jornalista político da Rádio Band News FM, abordou o assunto no programa É da Coisa. O comentarista cita uma das doutrinas mais enfatizadas pela denominação presbiteriana, a predestinação, o entendimento de que Deus determinou de antemão o “destino” da humanidade.
“A ideia da predestinação é muito importante para a Igreja Presbiteriana. Eu pergunto aos irmãos presbiterianos: vocês acham mesmo que Jair Bolsonaro é compatível com a ideia da predestinação? Será isso o que Deus nos reservou?”, questionou Azevedo, que se declara cristão católico.
Em seguida, Reinaldo cita situações recentes que envolveram líderes da IPB para reforçar a sua provocação sobre o que ele enxerga como uma adesão de militância eleitoral por parte da Igreja Presbiteriana.
“As convicções presbiterianas são compatíveis com a arma de Milton Ribeiro que disparou num aeroporto e poderia ter matado alguém? Com tudo aquilo que se viu no Ministério da Educação? Com o espetáculo e sabujice frequente que se vê de André Mendonça com Jair Bolsonaro? E agora, com a igreja aderindo a uma militância eleitoral?”
Reinaldo Azevedo conclui o seu comentário apontando que a isenção fiscal da qual as igrejas cristãs gozam é baseada no ideal do não envolvimento da Igreja com o Estado.
O jornalista afirma que este posicionamento vai contra a movimentação dos líderes da IPB que desejam “corrigir” fiéis com uma determinada posição política, de acordo com documento oficial divulgado.
“Como é que pode as igrejas gozarem de isenção fiscal, e portanto não serem taxadas pelo Estado porque não devem se meter com os ‘negócios de César’, isto é, com o estado mundano, e ao mesmo tempo resolverem ser partícipes do poder e daquele que disputa esse Estado, onde depois a igreja argúi a sua isenção?”.
Reinaldo Azevedo fala sobre o envolvimento da Igreja Presbiteriana com o bolsonarismo. pic.twitter.com/x879UbMaDA
— Andrade (@AndradeRNegro2) July 20, 2022
Folha Gospel com informações de UOL e TV Jornal