Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.

A Igreja Universal do Reino de Deus declarou apoio ao presidente da Venezuela e defendeu o fim do bloqueio e sanções ao país. Representante da igreja no país, o bispo da Universal Ronaldo Santos discursou ao lado de Nicolás Maduro e sua esposa, Cilia Flores, em um evento com líderes evangélicos de 23 estados venezuelanos, há 15 dias.

“Hoje temos aqui não apenas pastores, mas também a Igreja, que veio até a aqui orar pela Venezuela, clamar a Deus pela sua vida e por toda sua família, e por toda a responsabilidade que o senhor tem sobre essa nação”, disse Santos no evento com cerca de 17 mil pessoas em Carabobo, no interior do país.

“Meu Deus, podemos ter sanções, bloqueios, de todas as partes do mundo, mas não do céu. O céu está aberto sobre esta nação, sobre este país. Então meu Pai, eu te peço: derruba os bloqueios, as sanções, todo o meu Deus que tem impedido este país de se manter à tona, de avançar”, seguiu Santos.

“Presidente, quando o senhor toma a decisão de apoiar as igrejas e o Evangelho, o senhor está servindo a Deus”, ele continua, dizendo falar em nome de outras igrejas. Quando ele resolve rezar, a política se mistura à bíblia: “Muito se fala em ingerência, bloqueios, sanções — mas há uma coisa que nunca podemos nos esquecer nunca: podem nos bloquear de todos os lados, mas os céus não estão bloqueados”, conclui o pastor brasileiro em portunhol. Ao fim, ele abraçou o ditador venezuelano.

Tudo foi transmitido pela emissora oficial venezuelana, que reina absoluta diante do fechamento dos demais canais de televisão pelo regime chavista, como ocorreu com quase todos os veículos de comunicação que ele via como ameaça.

Maduro criou uma comissão liderada pela Comissão Nacional de Telecomunicações e pelo Movimento Evangélico Cristão da Venezuela, para permitir à comunidade cristã o acesso à radiodifusão, “sem burocracia e sem demora”.

As informações foram reveladas pelo The Intercept Brasil e são confirmadas pelos sites oficiais da Venezuela. Segundo o Intercept, por trás do inusitado apoio de Edir Macedo à Nicolás Maduro está a obtenção de concessão de TV na Venezuela.

O site lembrou que, no governo de Hugo Chávez (de 1999 até sua morte em 2013), a Universal teve dificuldades em expandir suas atividades no país. Chávez chegou a confiscar um terreno da igreja destinado à construção de um imenso templo.

Maduro quer apoio dos evangélicos para ampliar seu poder

Agora, para angariar apoio dos evangélicos em seu projeto de perpetuação no poder, Maduro, que foi incumbido por Chávez para dar prosseguimento à chamada Revolução Bolivariana, prometeu reduzir impostos para as igrejas. Além disso, lançou no ano passado o programa “Minha Igreja Bem Equipada”, que oferece mobiliário para os templos cristãos, com bônus de US$ 10 para os pastores. Também instituiu o “Dia do Pastor”, celebrado em 15 de janeiro, data da morte de Martin Luther King.

Após pressão internacional, inclusive de aliados, como Lula, Maduro marcou eleição presidencial para 28 de julho. Mas, como os pleitos anteriores realizados durante o regime chavista, este também já está sob suspeita, com denúncias de perseguições a adversários.

Uma ofensiva judicial contra a já inabilitada María Corina Machado complica ainda mais o cenário eleitoral para a oposição venezuelana, pois o período de registro de candidaturas começa nesta quinta-feira (21) e termina na segunda-feira (25). Na quarta-feira (20), o Ministério Público venezuelano a vinculou a “ações desestabilizadoras”, mas sem apresentar acusações contra ela. Sete colaboradores dela foram detidos e outros sete têm mandado de prisão, incluindo sua principal auxiliar, Magalli Meda, que era mencionada como possível substituta. Machado chamou as ações de “repressão brutal”.

Conforme levantamento do governo venezuelano, 88% da população do país é cristã, principalmente católica romana (71%), e os 17% restantes são protestantes, principalmente evangélicos. Cerca de 8% dos venezuelanos dizem não seguir religião alguma, sendo 2% de ateus e 6% de agnósticos ou indiferentes. Quase 3% da população segue outra religião.

Os evangélicos venezuelanos dividem-se principalmente entre batistas e pentecostais. Enquanto os primeiros, juntamente com a Conferência Episcopal da Igreja Católica, se opõem a Maduro, os segundos têm apoiado o governo, ressaltou o The Intercept Brasil para ilustrar o interesse do ditador do país na aproximação com a Universal e outras igrejas mediante concessões.

Maduro segue Chávez, que buscou o apoio dos pentecostais para contrabalançar a influência das igrejas batista e católica. Em 2019, o chavismo criou o Movimento Cristão Evangélico pela Venezuela (Mocev), coordenado por Moisés Garcia, um pastor e deputado pelo partido de Maduro, o PSUV.

A Universal e o apoio a direita no Brasil

Trecho de texto publicado no site oficial da Igreja Universal do Reino de Deus diz que “um cristão de verdade não pode nem deve compactuar com ideias esquerdistas”. O conteúdo, de 23 de janeiro de 2022, visa deixar claro a posição da denominação religiosa brasileira para os seguidores sobre a política. Ele elenca “5 motivos que mostram que é impossível ser cristão e ser de esquerda”

Naquele ano de eleição presidencial no Brasil, Edir Macedo e seus bispos usaram os microfones dos templos e os veículos da dominação brasileira para atacar o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pedir votos a Jair Bolsonaro (PL) – que já haviam apoiado em 2018; eleito, Bolsonaro foi abençoado por Edir Macedo perante 10 mil fiéis e o líder da Universal ganhou destaque em desfile de 7 de Setembro. Os pastores não pouparam críticas a regimes como os da China, Cuba e Venezuela.

Fonte: O Tempo

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