Bispo Edir Macedo em visita à Iurd de Kiev em 2021 - FOTO: Divulgação/Universal
Bispo Edir Macedo em visita à Iurd de Kiev em 2021 - FOTO: Divulgação/Universal

Em tempos que milhares de pessoas estão fugindo do território ucraniano, missionários da Igreja Universal do Reino de Deus inauguraram o oitavo templo da denominação no país. A Ucrânia está sendo alvo de ataques militares da Rússia desde fevereiro de 2022.

“Onde todos estão retrocedendo, nós estamos avançando, porque o objetivo é ganhar almas, é salvar vidas, é levar à vida eterna.”

Com essas palavras, Eduardo Bravo, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), definiu a estratégia da igreja fundada por Edir Macedo na guerra da Ucrânia.

A fala foi dita em 21 de fevereiro, um dia após o início do conflito, num programa televisivo da Universal que teve a participação de dois jovens missionários da igreja que haviam acabado de desembarcar na Ucrânia.

Desde então, enquanto milhões de pessoas fugiam dos ataques russos, a denominação brasileira inaugurou seu oitavo templo na Ucrânia e mobilizou suas unidades em outras nações europeias para receber refugiados ucranianos.

Outras igrejas brasileiras também têm se engajado na crise ucraniana, oferecendo abrigo e alimentos a refugiados ou até mesmo custeando seu transporte até o Brasil.

Para alguns grupos missionários, a crise humanitária na Europa oferece uma oportunidade para a evangelização, e a Ucrânia é um país estratégico para a expansão evangélica no continente.

Por outro lado, a perspectiva de uma vitória da Rússia no conflito gera temores entre grupos protestantes.

A ação de grupos evangélicos na crise ucraniana é atribuída, em parte, à importância do país na difusão da fé evangélica no Leste Europeu e na Ásia Central.

A Association of Baptists for World Evangelism (ABWE), uma das principais organizações missionárias do mundo, e que atua no Brasil, diz em seu site que a independência da Ucrânia em relação à União Soviética, em 1991, ampliou a liberdade religiosa no país e permitiu a “plantação de igrejas (evangélicas)”.

Como consequência, diz a organização, a “Ucrânia se tornou uma base para o envio de missionários para a Eurásia e Ásia Central, incluindo países como a Rússia, o Cazaquistão e o Uzbequistão, onde há pouca ou nenhuma liberdade religiosa”.

Uma das vantagens de usar a Ucrânia como base para o envio de missionários tem a ver com a língua russa, amplamente falada na região. Igrejas que formem sacerdotes ucranianos podem depois enviá-los a países vizinhos.

Outro fator que atrai missionários para a região é a presença de “povos não alcançados”, como esses grupos se referem a comunidades não cristianizadas. É o caso dos tártaros-crimeanos, minoria étnica de religião muçulmana que habita a Crimeia, região na fronteira entre Rússia e Ucrânia, hoje ocupada por forças russas.

Outro chamariz é a grande população local. Só a Ucrânia tem 44 milhões de habitantes. A Rússia, 146 milhões.

‘Grande mar de almas’

Em texto publicado em 2018, o bispo da Universal Eder Figueiredo se refere à Europa Oriental como “um grande mar de almas”.

A denominação brasileira está na Ucrânia desde 2006 e tem 17 pastores no país.

Em 24 de abril, a igreja inaugurou um templo em Lviv, cidade no oeste da Ucrânia que tem recebido grande número de refugiados.

Há outros sete templos da Iurd no país, onde a ampla maioria da população é cristã ortodoxa.

Segundo uma reportagem da TV Universal, a abertura da unidade em Lviv atraiu “centenas de pessoas”. “Na contramão do terror, o trabalho da Universal não parou”, disse a emissora.

Naquele mesmo dia, segundo a TV Universal, “muitos ucranianos tomaram a decisão de se batizar nas águas” num culto da Iurd na capital do país, Kiev.

Mas a intensificação da operação da Universal na Ucrânia tem ocorrido em meio a grandes dificuldades.

Em 28 de fevereiro, o pastor Tiago Casagrande, que chefia a operação da Universal na Ucrânia, disse ter passado quatro noites sem dormir enquanto fugia de Kiev para a Polônia.

Na época, temia-se que a Rússia pudesse atacar a capital ucraniana a qualquer instante.

Ao lado de sua esposa, Ana Cláudia Casagrande, o pastor relatou os percalços da viagem ao bispo da Universal Renato Cardoso.

Durante a conversa, publicada no canal de Cardoso no YouTube, Casagrande chorou copiosamente e chegou a abandonar a transmissão por alguns instantes.

Nesse momento, a esposa do pastor assumiu a palavra e disse ao bispo que o casal pretendia voltar à Ucrânia o quanto antes.

“A gente sabe que vai ser uma oportunidade ainda maior para levar a palavra, para ganhar mais almas”, afirmou.

Após a fuga, o casal passou a trabalhar na entrega de donativos da Universal a refugiados ucranianos na Polônia. O país é o principal destino das cerca de 14 milhões de pessoas que deixaram a Ucrânia desde o início da guerra.

Em nota à BBC, a Universal disse que já destinou a refugiados ucranianos 205 toneladas de donativos, entre alimentos, roupas e produtos de higiene.

A igreja tem mobilizado suas estruturas em outros países europeus para atender os refugiados. Na Moldávia, por exemplo, um texto no site da Universal diz que as atividades do Sábado de Aleluia reuniram 500 pessoas, das quais 130 eram refugiadas ucranianas.

A igreja afirma que naquele dia 40 pessoas “se uniram à fé”, ou seja, foram convertidas.

Fonte: BBC Brasil

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